Condicionamento de
Pistas
Augusto Dias
"Como o assunto Condicionamento de Pista está em alta (até parece
que quase nunca está, não é mesmo?), vamos falar mais um pouco sobre
este assunto.
Comecemos com o básico. Para quê serve o óleo na pista? Eu diria
que há dois propósitos básicos:
1- para proteção da superfície da pista;
2- Com as diferentes formas de colocar o óleo nas pistas, cria-se as
diversas reações de bola.
Destes dois propósitos, o segundo, que é a criação de reação de
bola, é o mais recente. A proteção da pista começou sendo usada há
muito tempo atrás, quando as pistas ainda tinham seu acabamento com
verniz e laca.
Voltemos onde tudo começou.
Lá no inicio de nossa história, os centros de boliche usavam pistas de
madeira sem nenhum tratamento, a pista era composta por dois tipos de
madeiras. Com o tempo de uso, notou-se que a madeira não era duradoura.
Apodrecia, rachava e apareciam manchas devido ao contato das bolas. E como
a necessidade é a alma das invenções, os centros de boliche precisavam
encontrar um meio de proteger as pistas.
Lá pelos idos da década de 20, começou-se a passar verniz nas pistas
como forma de dar proteção às mesmas contra o desgaste ocasionado pelas
inúmeras partidas jogadas diariamente naquelas pistas.
Notou-se que após jogar-se muitas partidas de Ligas, passando-se as bolas
sempre na mesma parte das pistas, e que o calor provocado pela passagem
das bolas - a chamada fricção - em sua superfície de madeira, ocorria o
desgaste dessa madeira mesmo com o verniz, deixando marcas marrons a
vista. Os proprietários dos Centros de Boliche não gostaram de ver
aquelas manchas nas pistas, e tinham então, que lixar e fazer uma nova
aplicação de verniz sobre elas - o dito "Resurface".
Na década de 40, o verniz foi substituído pela Laca. Contudo, os mesmos
problemas continuaram a ocorrer. Aí, alguém mais atento nesse nosso
mundinho de oportunidades, resolveu inventar um produto que diminuísse a
fricção das bolas nas pistas e as protegesse por mais tempo. E então
resolveu chamar este produto de: Óleo de pista!
Os óleos de pista, dos anos 40 até os 70, eram compostos por óleo
mineral e solvente. Um pó ultra-violeta foi mais tarde adicionado à este
composto por determinação de regras da ABC/WIBC. Este óleo era aplicado
nas pistas com a ajuda de uma toalha, de uma bomba de Spray ou mesmo um
esfregão por toda a largura da pista e determinada extensão, sempre em
quantidades muito pequenas.
Nos anos 50, inventaram a máquina de passar óleo. Estava criado um novo
método de aplicação do óleo nas pistas. Naqueles anos, as bolas de
boliche eram de borracha dura, e plástico - quando eu comecei a jogar
Boliche no Rio de Janeiro, nos saudosos anos 80, eu pude conhecer algumas
bolas de borracha, mas estas bolas não absorviam muito óleo das pistas,
a quantidade de óleo removido pelas bolas até aí era, em torno de 1/15
do que fora aplicado. Pouco! Assim, quando a bola de Boliche rolava em
cima de uma pista onde estava aplicado este óleo, a fricção entre a
bola e a pista fora reduzida ao mínimo.
Agora, já no século 21, o propósito do óleo sobre as pistas continua
sendo de proteger e ainda criar reações das bolas de Boliche.
Com a criação das pistas sintéticas, que são mais duras e menos
porosas do que aquelas do inicio de nossa história, os centros de boliche
viram as bolas criarem mais fricção, arranhões e desgastes nas pistas
devido ao grande número de partidas de Ligas e etc. E com isso, as bolas
de Boliche também sofreram uma evolução. Assim, as bolas evoluíram de
borracha e plástico e Uretano para Resina Reativa e para a Tecnologia de
Partículas. As bolas de Boliche fabricadas hoje em dia, são muito
agressivas às pistas, criando uma alta fricção nestes tipos de pistas
sintéticas.
Ambos os materiais, resina reativa e bolas de partículas, são mais
macios que as bolas de borracha, e plástico e Uretano. Contudo, as bolas
de partículas são as mais agressivas entre aquelas, pois os fabricantes
inserem no material que reveste estas bolas - COVERSTOCK - Mica, micros
cristais de vidro ou cerâmica. São minúsculos pedaços desses
materiais. Quando as bolas as quais possuem essas partículas rolam nas
pistas, produz maior aderência à pista. Pois bem, esta aderência
ocasiona fricção e conseqüente desgaste das pistas. Qual a solução
para tanto? MAIS ÓLEO NAS PISTAS!!
É isso mesmo, Óleo de Pista, ou também chamado de Condicionador de
Pistas, para proteger suas superfícies pelos danos causados pelo contato
com estas novas bolas.
Da década de 80 até 2000, os óleos de pistas tinham como base o óleo
mineral, foi adicionado então, outros componentes que modificam a
viscosidade e a fluidez destes óleos (obrigado Márcio Vieira pela ajuda
nesta parte físico/química).
Alguns destes componentes novos, controlam á grosso modo o contato das
bolas com a superfície das pistas não provocando um "arraste"
exagerado, e também fazendo com que óleo ao ser passado por toda a
largura da pista, não escorra para as canaletas - percebam vocês, como
isto é muito complexo. Por esse motivo, entre outros, não se deve
brincar de técnico em condicionamento de pista. E devido à dureza da
superfície das pistas e sua porosidade, não se pode passar óleo em toda
a extensão das pistas - esta parte interessa às Casas de Boliche - caso
contrário, o óleo migraria para o fundo da pista, atingindo as correias,
os elevadores de bola e outras partes mecânicas das máquinas de pinos,
causando problemas de manutenção.
Com as novas máquinas de condicionamento, é possível passar óleo de
maneira uniforme em qualquer parte da pista. Isto pode fazer com que a
pista se apresente muito "lisa" com óleo em toda a largura da
pista, pois este se assentará em cima da superfície menos porosa. Este
tipo de passagem, "Flat", provoca uma grande variedade de
"reações de bola" e que são imprevisíveis.
Com o advento da alta tecnologia na fabricação das bolas, os técnicos
precisam desenvolver padrões de condicionamento que façam com que as
bolas atinjam o "famigerado" Pocket. Modificando a
"quantidade" e "onde" a concentração do óleo é
aplicada na pista, o "SKID" = distância em que a bola corre a
frente, o "ROLL" = a distância em que a bola passa a rolar na
pista, e o "HOOK"= o chamado efeito ou o potencial de arremate
da bola, poderia ser ligeiramente controlado, enquanto ainda assim se
protegeria a pista. Dando-se aos Centros de Boliche e aos Técnicos o
controle da dificuldade das pistas e do "Esporte de Boliche".
Prestem a atenção, que aqui separamos as coisas. Casa de Boliche e seu público
normal, e até mesmo suas Ligas, do Esporte Boliche como Competição de
Alta Performance. Assim começa: "A Arte de Condicionamento de
Pista".
Faça o seguinte exercício mental - eu sei que será difícil para alguns
dentro de nossas linhas "brasilianas", mas... - uma fina camada
de óleo é aplicada numa determinada distância. Em muitos casos, isso
poderia ser perto dos 40 pés. Os padrões de óleo nas Ligas americanas
é composto de mais óleo no centro das pistas e menor volume nas
extremidades. Assim é feito, para dar aos jogadores dessas Ligas uma
condição melhor de pista, e conseqüente maior volume de partidas altas.
A bola deslizaria primeiro na parte da pista onde o óleo é mais
concentrado - o centro - permitindo que a bola mantenha a sua velocidade e
direção, enquanto corre pela pista. A bola deixando a parte da pista com
maior concentração e atingindo a área com menor densidade de óleo e
menor resistência, fará com que esta comece a rolar. E quando a bola
atinge a área onde termina o padrão de óleo - arremate, toda a energia
armazenada na bola até que atinja esta área de arremate - Backend - fará
a reagir e a "quebrar" - Hook - em direção ao Pocket.
Assim, adicionamos "padrões de óleo" às "Reações de
Bola". Contudo, criando Reações de Bola se desenvolveu algumas
conseqüências que os jogadores de Boliche ainda estão tentando aprender
e a entender: Carry Down, Transição e BreakDown.
Mas isto é uma outra conversa.