É engraçado, quando a gente soube que
os Jogos Pan-Americanos seriam realizados no Rio de Janeiro, a primeira
impressão seria:; Isso não vai dar certo! Ora, por que? O jeitão
natural do carioca, meio largadão, relaxado e refratário à qualquer
tipo de pressão, tornaria esse empreendimento impossível na nossa
cidade.
Ainda mais quando se sabe que a cidade vive uma guerra civil plena. Guerra
essa, disputada entre narcotraficantes, policia militar e milícias e com
a população civil bem ali no meio.
Mas, há aqueles que acreditam.
Acreditam que a educação e o esporte sejam o trampolim certo para fugir
de uma vida medíocre, fadado ao nada ou no mínimo, uma luta desigual
para sobreviver com meios mínimos.
O acreditar, faz algumas pessoas colocarem o trem nos trilhos e pronto aí
está: os jogos Pan-americanos no Rio de Janeiro.
É claro que o esforço exigiu o máximo de algumas pessoas que
acreditavam. Acreditaram tanto que ai está.
Um festa inaugural, in igual, nossa, com pinta de ser a nossa festa feita
para os nossos irmãos brasileiros, de outros estados. Uma festa
sensacional onde a carioquice tirou a fala do presidente, onde o
Presidente do Comitê Olímpico tomou a fala do Chefe maior do Estado, em
nome do protocolo, para evitar maiores vaias ainda.
A União entrou com muita grana nessa festa, o Estado nem tanto e o Município
está ai, rindo á toa, com o Cristo Redentor eleito uma das sete
maravilhas do mundo moderno.
Certamente o Rio de Janeiro ri á toa. Por aqui estamos com tudo e não
estamos prosa!
Nessa história entro eu. Fui escolhido para ser o locutor oficial para o
evento do torneio de Boliche. Sou eu quem vai anunciar as boas vindas às
nações que disputam o torneio, quem vai pedir que não se fume no
recinto, quem vai anunciar os medalhistas na cerimônia de entregas de
medalhas daquele evento.
Ah ... e também quem vai escolher as músicas que vão tocar antes dos
eventos e durante os intervalos.
Mandaram um e-mail do Comitê Organizador pedindo que eu fosse me
apresentar ao Setor de Credenciamento, com urgência porque os jogos iam
começar.
Lá fui eu, meio desconfiado, porque achava que isso levaria uns dois ou
três dias para se concretizar. Cheguei ao local designado, uma tenda
enorme, atrás do Barra Shopping, ali ao lado do Hospital Lourenço Jorge.
Centenas de pessoas em diversas filas que levavam á uma dúzia de
corredores e onde havia dezenas de atendentes. Confuso pacas mas, ao
perguntar ao primeiro voluntário, a informação correta; Sim amigo, a
sua fila é aquela ali! Esperei apenas vinte minutos e logo tiraram a
minha foto. A moça me pediu para aguardar mais dez minutos e logo meu
crachá seria entregue.
Durante essa espera observei cariocas de todas as camadas sociais; operários,
médicos, estagiários, donas de casa, moças solteiras e estudantes.
Todos empenhados nas suas funções; de atender bem e de voluntariar
nesses jogos. Havia um olhar comum em todos: fazer essa coisa dar certo!
Daquela fila fui informado que era para ir para outra fila, onde pegaria o
meu uniforme. Putzz! nem sabia que iria trabalhar de uniforme do Pan, mas
essa fila nova era mais interessante, misturados com os tais operários,
policiais militares da força tarefa, policiais rodoviários federais e
estudantes voluntários, haviam também vários atletas de diversos países.
À minha frente atletas do time de handebol feminino do Chile, remadoras
da Republica Dominicana e halterofilistas Mexicanos, misturados com
diversos policiais em uniformes de combate e mais voluntários.
Rapidamente éramos expedidos e em menos de uma hora eu estava com crachá
e uniforme. Queimei a língua. Alguém organizou muito bem isso daqui e
esse alguém está de parabéns.
Check out para validar o crachá e de volta para a rua.
Coberto pelo espírito olímpico que tomou conta do Rio, e ciente de que há
um trabalho a ser feito.
Tomara que dê tudo certo!