Olá!!!!!

É com o maior prazer e respeito que apresento a todos um pouco desse atleta que hoje poderia escrever um livro sobre nosso esporte, pois, experiência e “causos” com certeza não lhe faltam.

Nascido em Goianá, cidade a 20 km de Juiz de Fora – MG, 52 anos de idade, pai de Breno de 21 anos, que é estudante de jornalismo e praticante de surf e jiu-jitsu, e pai também de Bruno que com seus poucos 11 anos já é considerado “rato de boliche”.

Casado hoje com “o melhor jogador” de boliche do Brasil, Jacque Costa.

WALTER COSTA, jornalista e representante da Brunswick no Brasil, com toda paciência e simpatia respondeu as perguntas abaixo e confirmou o que todos já sabiam: é um ser humano sensível, inteligente e humilde.

Tem-se muito a aprender com pessoas assim. Valeu Walter, muito obrigado!

(
Foto por Lu Pitangueira)

Lu Pitangueira – Quando começou a jogar boliche e por quê?

Walter Costa – Comecei por volta de 1975/1976 no Rio de Janeiro, e eu freqüentava o boliche porque era um local que as mulheres iam muito, ou seja, “dava” muita mulher.

E comecei a competir, porque toda sexta-feira existia uma aposta onde os federados jogavam valendo dinheiro e me interessei, então, jogava pelo “bolote”.Começávamos a jogar às 20h de sexta e muitas vezes terminava as 11h da manhã do dia seguinte.

Ainda era o boliche com Pin-boy, ficava na Estrada das Canoas e se chamava “Meu Boliche”, não tinha ar condicionado e já teve verão que nós terminamos de jogar bolote de cuecas e sapatos de boliche apenas. O bacana desse bolote, é que de 20h até 1h ele era “dupla canadense” e as mulheres podiam participar também. Lá pelas 2h da manhã é que começava o individual e ia até a gente agüentar. O horário normal era até 8h ou 9h da manhã.

LP – E quando parou de “brincar” de boliche?

WC – Foi em 1979, quando fui jogar em Miami, Flórida, o Torneio das Américas. Interessei-me e quis estudar. Não como jogador, mas sim, a entender como se administrava uma casa de boliche. Não adianta o jogador de boliche reclamar da casa, se ele não sabe do que está reclamando e nem tem uma sugestão como solução. Comecei a estudar, peguei a representação da Brunswick, fiz cursos e passei a me interessar comercialmente pelo boliche, entender como se opera uma casa de boliche, tudo que se faz dentro de um boliche.

LP – É um bom negócio?

WC – Um excelente negócio. Porém, existem algumas coisas a se verificar, por exemplo, o federado não é dono do boliche. Ele acha que é dono e que o boliche tem que fazer suas vontades. Nem o dono de boliche pode achar que o federado não interessa à casa, entende? É preciso que haja parceria, bem dosado. Eu vejo em Salvador, eu queria ter tido na minha carreira de jogador um dono de boliche igual a Fabio Ribeiro. Ele só incentiva e até se preocupa em como fazer para melhorar e as pessoas reclamam.

LP – Não será porque ele também é um jogador de boliche?

WC – Não. Não é só por isso não. Pelo o que eu conheço Fabinho, ele é um grande incentivador do esporte.

LP
– Hobby?

WC – Johnnie Walker e a Jacque.
Mas, eu já fui da Seleção Brasileira de Vôlei, fui Campeão Carioca de Futebol de Praia, fui para a final do Campeonato de Peladas no Aterro do Flamengo, que entravam cinco mil times de futebol, mas, o boliche é meu esporte e meu hobby. Inclusive parei com os outros esportes porque estava atrapalhando o boliche.

LP – Cigarro e bebida por quê?

WC – Prazer. Quando eu vim para São Paulo em 1982 para montar o Boliche do Shopping Morumbi, eu não bebia, aí depois comecei a beber socialmente. A fumar comecei há mais tempo.

LP – O cigarro não lhe atrapalha?

WC – Atrapalha. Eu gostaria imensamente de parar de fumar. Eu tive um chefe na Brunswick, que ficou 10 anos sem fumar. Foram os exatos 10 anos que ele parou de trabalhar com operação de boliche, ele era da parte administrativa. Quando a Brunswick montou o Barra, ele voltou a trabalhar na operação e voltou a fumar desbragadamente, fumando o dobro que fumava antes.

LP – Como é trabalhar com operação de boliche?

WC – Estressante. Quando se chega em casa é impossível se desligar, você fica pensando no dia seguinte. Como será o amanhã. Toda a organização do torneio fica na mente e ainda existem casos como, por exemplo, troca de nomes de atletas. O meu mesmo eu vou trocar para um nome mulçumano, rsrsrs.

LP
– E o PAN?

WC – Arrumaram uma eliminatória perigosa. Quem não tiver grana não se classificará. Parece que serão nove eventos, e poderá ser descartado dois. Você é obrigado a participar de sete competições, e se jogar os nove, poderá descartar dois.

Agora, se o ano tem 12 meses, é praticamente um evento por mês. Para quem mora em Salvador, que terá apenas um torneio em casa, precisará viajar para oito ou seis competições. Haja dinheiro!

Tem que ser a toa que nem eu, mas não pode ser duro que nem eu! Não adianta ser apenas à toa, porque nem assim conseguirá jogar todos.

Acho que o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) passou a conhecer o boliche nas Olimpíadas de 1988. Quando cheguei lá, nem uniforme tinha para mim. Não tinha uniforme para o desfile de abertura. Foi aí que o COB percebeu que o boliche também é esporte. A partir daí, em todos os PAN tivemos facilidades.

É difícil um diagnóstico com relação ao PAN. Se perguntar se nós temos jogadores capazes de ganhar? Temos. Só não temos quantidade. Nos USA para se tirar 4 atletas é fácil, pois tem mais de 400, sei lá. Aqui, tiramos de 40. Acho que deveríamos pegar os 12 atletas que achamos que tem chances e colocá-los em uma pista, com as coisas mais difíceis, sem condicionamento certo e falar: se vira!!!

A nível mundial não estamos preparados para ser uma potência. Exemplo: pagamos até para treinar! Qual esporte que paga para treinar? Não temos grana para comprar bons materiais.

LP – E a organização?

WC – Considero José Luiz Veiga o melhor do mundo a nível de organização. No administrativo somos os melhores do mundo. Já joguei quatro pan-americanos e já tive departamento médico do COB como o melhor do mundo. Porém, os jogadores estão aquém de nossa organização. Você vê jogo lento, por exemplo. O dia em que alguém for penalizado, um bode expiatório, todos irão ficar espertos.

LP – Qual o título mais importante de sua carreira?

WC – De importância, foi a vaga para as Olimpíadas de 1988. Eu ganhei o pré-olímpico em Caracas, sendo medalha de ouro e fui um dos doze jogadores do mundo a participar de uma Olimpíada que foi em Seul. De satisfação pessoal, foi no Torneio das Américas em 1985 quando fui campeão. Ganhei o all events, ganhei a dupla com Veiga, ganhei tudo. Foi onde eu comecei internacionalmente e levei oito anos buscando esse objetivo e consegui. Satisfação muito grande.

LP – Sua esposa Jacque aconteceu antes do boliche ou por causa dele?

WC – Aconteceu por causa do boliche. Eu sempre a achei linda, sempre fui apaixonado, mas nunca tive oportunidade de me aproximar. Quando eu me mudei para Belo Horizonte em 1987, para montar o que hoje é o Boliche Del Rey, na época era o BH Boliche, na Rua São Paulo, eu inventei para a federação que eu iria treinar as meninas. Toda quarta-feira nós íamos ao Boca da Noite, para treinar. Aí ela ficou de olho na minha grana, se apaixonou e casou.

LP
– Boca da Noite?

WC – Era um boliche de cordinha que tinha em BH, pista de madeira, um negócio horroroso de jogar. Então, eu as treinava com os fundamentos. Quando nós começamos a montar o BH Boliche, eu e Pedro montamos as pistas 11 e 12 primeiro, mesmo de forma horrorosa, para seguir o treinamento. Continuamos a construir o boliche, mas, tinha duas pistas montadas. Às vezes a gente passava óleo diesel, mandava comprar no posto de gasolina para passar nas pistas para elas treinarem. Por isso que dificilmente se verá um time tão unido como o de Minas.

LP – O que é preciso para a garotada crescer no esporte?

WC – Tiro de precisão. Acertar “piroca de mosquito”. Quando eles pegam um boliche que tem espaço para jogar, isso a bola passa mais ou menos em 7 ou 8 tábuas da seta, eles voam. Mas, se é preciso jogar entre a seta 1 e a canaleta ... Falta tiro de precisão. Eles pecam por isso. Muitos desses meninos eu percebo que vão para o boliche treinar, mas, eles abrem a pista para jogar. Não é para treinar, não é para corrigir aonde eles são fracos. Estão mais preocupados com o show do que com a competição. Nem todos, é claro.

LP – Você oferece cursos, aulas?

WC – Eu faço para quem eu quero fazer. Eu sou contra a cobrar dinheiro, sou amador. A Brunswick me levou três vezes com tudo pago para os USA para jogar na PBA (Professional Bowlers Association) e eu não quis ficar. Voltei para o Brasil e vou morrer sendo amador.

LP
– Pior momento como atleta.

WC – Foi quando fui jogar um Sul Americano no Peru, tinha acabado de ser sétimo das Américas em Miami. Não tinha nenhum sul americano na minha frente, então fui tranqüilo. Classificavam-se 16. Eu não me classifiquei. Para piorar eles fizeram um negócio chamado “Torneio de Consolação” (em espanhol) com os outros 16 competidores e eu também não me classifiquei. Eu era o 33º. Sabe o que eu fiz? Peguei minha bola e fui esperar alguém faltar para jogar.

LP – Você sabe explicar o que aconteceu?

WC – Não. Eu achava que jogava muito.

LP – Excesso de confiança?

WC – Isso me motivou muito, a mostrar que, se eu quero ser eu tenho que ganhar. Ninguém pode ganhar para mim, eu tenho que jogar mais do que todo mundo. Isso serve como exemplo e como lição para muita gente. Eu era o 33º, fui com minha bolinha para o boliche, esperando alguém faltar. Ninguém faltou! Fiquei lá assistindo o 32º jogar! Acho que você só aprende a ganhar, quando se aprende a perder. Enquanto isso não acontecer, você não vai estar preparado!

LP
– Falta humildade na garotada?

WC – Se eles tivessem passado pelo o que passei... Por exemplo, para ir para o exterior, mamãe vendia passagens, tinha que vender 10 para ganhar a 11ª. Eu morava em Copacabana, Bairro Peixoto nessa época. Minha primeira esposa era médica, eu vendia recibo dela para arrumar dinheiro e jogar torneio de boliche. Graças a Deus eu colhi louros sobre isso. Na PBA eu conheço 20 a 30 jogadores, que aonde eu chegar eles irão me cumprimentar, inclusive o maior dos maiores que me busca no hotel. Isso é meu prêmio.

LP
– Qual o melhor jogador do Brasil hoje?

WC – Jacque Costa

LP
– Da Bahia?

WC – Fabio Ribeiro, meu rei.

LP – Qual o melhor jogador que você já viu no Brasil?

WC – Juliano Oliveira.

LP
– No mundo?

WC – Afonso Rodrigues do México.

LP – Conselhos para os que estão começando.

WC – Determinação, obediência e treino. Acima de tudo determinação, objetivo.

LP
– Sua maior virtude como jogador?

WC – Amor. Você vai sempre ver um pedaço de mim na bola.

LP
– Giro ou pontaria?

WC – Pontaria.

LP – Relação de seus títulos mais importantes.

WC – Vamos começar pelos brasileiros. Devo ter jogado uns 25 ou 26 campeonatos brasileiros de seleções e devo ter ganhado mais de 50%. Clubes, eu também devo ter ganhado mais de 50%. No brasileiro individual tenho onze títulos. Taças, bastante, um “tanto”. Torneio das Américas já ganhei umas três vezes, Sul Americano ganhei umas quatro vezes. Um pré-olímpico e uma olimpíada.

LP – Como foi a Olimpíada?

WC – Uma decepção. Primeiro, eu perdi meu emprego para ir. No avião estava Romário, Zequinha Barbosa, Joaquim Cruz, eu pensei: caramba, o que estou fazendo aqui?

Eu era o único representante do boliche. Eu tive um técnico, indicado pela CBDT que eu não conheço até hoje. O boliche como demonstração, foi um tiro de 12 linhas em um dia só. Todo mundo com crachá e querendo olhar tudo, participar. Eu quis vir embora. Vim embora no dia seguinte. Meu mundo desmoronou. Eu tinha ganhado um pré-olímpico, conhecia meus adversários, queria medalha de ouro, e jogar 12 linhas em apenas um dia? Você não sabe se está nervoso, se a pista está mais rápida, e não tem com quem trocar idéia. O Marcio Vieira que foi meu técnico o tempo todo, não foi. O indicado pela CBDT foi passear em Seul. Eu não tinha técnico. Aquilo não é sério. Apenas para quem ganha dinheiro para participar, como um Romário. Eles não levam nosso esporte a sério!

WC – Quero falar da Bahia. Tenho dois 300 lá. Só tenho vitórias, um brasileiro individual, amo todos, especialmente Fabio Ribeiro. Ele tem uma preocupação violenta com o esporte, quer fazer as coisas, ele é muito bom. As pessoas não entendem. Ele é um cara sério. Quando me candidatei para CBBOL, ele era meu vice. Só faz as coisas em benefício ao esporte, não precisa de grana.

LP
– Quantas vezes fez o “jogo perfeito”?

WC – Jacque responde.

Jacque Costa – Que eu tenha presenciado umas 6 vezes, porém quando eu conheci já jogava há muitos anos.

WC – Eu largo toda linha pensando em 300. É aquela mulher mais linda do mundo que você quer beijar. É bom demais.

Entrevista feita em 21/01/2006.

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