Olá!!!!!

Para essa reapresentação das minhas entrevistas aqui no Boliche Online, divulgadas anteriormente no site da Federação Baiana de Boliche, escolhi um depoimento muito especial, com alguém que tem o que dizer e, principalmente, sabe o que diz!

Não foi uma entrevista convencional, e sim um desabafo de um atleta que tanto amor sente por esse esporte chamado boliche, com a participação especial de Walter Costa.

JOSÉ LUIZ VEIGA, paulista nascido na cidade de Lins, aos 61 anos de idade possui fôlego para organizar muitos campeonatos ainda.

Esse depoimento começou na realidade quando estava entrevistando Walter Costa sobre o que é trabalhar com operação de boliche, o quanto é desgastante, e Veiga juntou-se a nós como uma metralhadora, atirando com as seguintes opiniões...

Lu Pitangueira – É difícil organizar um campeonato?

José Veiga – Nossa!!! Acho que todo atleta deveria pelo menos uma vez montar um evento de 180 pessoas. Nunca mais iriam reclamar!

Você, Lu, chegou aqui no Planet Bowling (SP) no horário de seu turno, para jogar as cinco partidas. Eu cheguei às 6:30 da manhã, deve terminar por volta das 22 h, então, eu devo ir para casa mais ou menos a meia noite. Amanhã serão três turnos, imagine! A gente trabalha de quinze a dezesseis horas por dia nesses eventos.

É difícil dormir, a cabeça não pára, fica-se preocupado com o dia seguinte, são muitas coisas para se ver, condicionamento, resultados, regulamentos, diretoria, e ainda existem atletas que reclamam de tudo!

Olha, a primeira vez que o Brasil ganhou alguma coisa, foi comigo e Walter em 1985, em Miami. Os países sul-americanos vibravam junto, pois era a primeira vez que um país sul americano chegava tão longe, nós jogávamos em dupla.

Faz 46 anos que faço boliche no Brasil, então, a gente sonha com as coisas!  

Quando o Walter dirigiu o boliche do Shopping Morumbi aqui em São Paulo, ele tinha o poder e ajudou a gente a jogar durante três anos de graça, sabe o que é isso? E aí algumas pessoas foram falar mal! Depois que eu saí e o Walter também, isso acabou.

Se as pessoas se ajudassem mesmo, poderiam baratear os custos. Não se pode pedir para uma casa comercial fazer mais barato.

Uma coisa que eu brigo no esporte, quando abriu o Morumbi, eu tinha campeonato lá nas segundas e terças. Nós alugávamos as pistas para os atletas por hora. Começava as 20:15 e a meia noite, em menos de 4 horas, já se estava no restaurante batendo papo. Três atletas por pista, mudança a cada partida. Hoje vocês jogaram em 5 horas e15 minutos!! Como se negocia com a casa? Esse é o problema!  Quando a gente fala que tem que dar uma penalidade para o jogo lento, dizem, “ah não pode”, “as pessoas vão ficar chateadas”! Coisas que eu brigo nesse país são essas.

Porque quando eu era presidente as pessoas não fumavam nos torneios, respeitavam, nós tínhamos uniformes, carteirinha em dia. Eu pedia e as pessoas colaboravam.

No dia 18 de julho de 1980 o boliche foi reconhecido como esporte, graças a Deus a lei tem o meu nome, demorou 16 anos para se conseguir isso. Custou minha vida financeira. De 30 de agosto de 1966 a 18 de julho de 1980, foi a minha luta, todo mundo ajudou e o boliche foi reconhecido como esporte. No documento está escrito “nós prometemos não fumar e beber durante um evento”, e eu assinei isso.

Quando começou todos colaboravam, todos queriam crescer. Se entrar uma autoridade no boliche em dia de competição e ver o cigarro e a bebida, logo deduzirá que é esporte amador. Nós estamos conquistando algumas coisas. Alguns privilégios. O Marcelo Suartz vai ganhar dezoito mil reais por ano de bolsa. É um sonho!

Então, nós poderíamos colaborar para que a coisa funcionasse bem. É só doutrinar as pessoas. Veja por exemplo a pista que está jogando o Tuca Maciel, João Carneiro e outros, não pode ser desse jeito (demora de jogo), pois, quando vão jogar lá fora (outro país) recebem advertência, como aconteceu em 2002 que o Brasil recebeu um cartão por demora na pista. Essas coisas que falo para a diretoria que deveriam melhorar.

Outra coisa que eu brigo é com relação às taças. Você já viu quantos eventos tem no ano? Você tem dinheiro para isso? Quem tem dinheiro para isso? Quantas taças são feitas no Brasil com o intuito de tirar dinheiro dos atletas para fazer caixa? Taça para mim tem o sentido de eu te convidar para vir a minha casa. Vou procurar fazer com que você venha a minha casa e gaste o menos possível.

Antes nós íamos para Miami com quase tudo patrocinado, pagávamos U$1,00 simbólico de diária, recebíamos um álbum, somos considerados “cidadãos de Miami”.

É uma questão de boa vontade, de ir atrás. Aqui no Brasil, na Bahia, por exemplo, já tentaram fazer um torneio internacional, mas não foi como é feito no exterior, que você vai preparado para ficar uma semana no local.

Nós já fizemos Taça São Paulo, onde trouxemos campeões mundiais de fora, que durava uma semana e o atleta se programava para isso. Nós jogávamos quatro dias, sábado, domingo, segunda e terça, como as quatro fases que se joga no campeonato brasileiro, e aí se classificavam dezesseis melhores homens e mulheres para continuar o evento. Jogava-se quarta, quinta e sexta e no sábado terminava com uma grande festa com a participação de todos. Fez-se uma viagem e se divertiu além de apenas se jogar boliche.

O que você faz quando viaja a não ser ficar dentro do boliche a maior parte do tempo? Enquanto os dirigentes acharem que só podem utilizar dois dias úteis, será assim, e isso mata o esporte. Nós temos que pensar em qualidade.

Acredito que poderia existir a Taça Rio, Bahia, etc., a nível internacional, mas, como se realiza fora do país. Um torneio na Argentina sai por U$300 para se jogar seis dias, e isso já com o hotel incluído. Porque trabalham para isso. Aqui ninguém se prontifica para nada. Um reclama do outro. Ninguém consegue nada, a não ser é claro, individualmente.

Isso precisava mudar. Boliche é caro gente!

Quando nós começamos em 1980, eu arranjava alojamento olímpico, a seleção de basquete ficava lá. Walter já ficou umas quatro vezes. Custa R$ 5,00 por dia. Tem cama limpa, banheiro, chuveiro. Para quatro a oito pessoas. Fica a dez minutos de ônibus do Planet Bowling. O pessoal cresceu sofisticado, não cresceu como esporte. Ninguém quer ficar no alojamento.

Teve um evento que o Brasil foi jogar no Equador, a nossa seleção ficou em hotel de U$100,00 por dia, enquanto o vôlei olímpico campeão ficou no alojamento olímpico. Essas coisas precisavam parar.

Reclamam de preço caro do boliche, mas, podem ficar em hotéis maravilhosos. Como é que podemos ficar cinco, seis horas dentro de um estabelecimento jogando boliche e querer que o proprietário dê 50% de desconto? Quando existe evento em uma casa, a concorrente está faturando muito mais. Nós temos é que agradecer a essas pessoas que dão alguns descontos para nós.

O boliche como esporte é como um basquete, vôlei e pode ser bem administrado se todo mundo colaborar. Em 1988 Walter Costa representou o Brasil em Seul, conseguiu-se um patrocínio porque ninguém tinha nada. Em 1978 no sul-americano no Peru, tínhamos que enviar alguém, foi todo mundo do Rio de Janeiro, mas quem pagou as taxas fui eu aqui de São Paulo, porque nós tínhamos que mostrar que o boliche existia. Todo mundo se ajudava. Hoje ninguém corre atrás de nada.

Existe um nome que tem que ser dito e lembrado, que é Adalberto Saco. O ano passado ele tirou do próprio bolso R$ 65.000,00. Ele ajuda todo mundo aqui. Até mesmo o César Maciel, a nível de seleção, que não conseguia liberar verba em Brasília, ele interferiu e liberou.

Deveria haver mais união.

Ontem mesmo eu jantei com o Adalberto, e nós comentamos que o César pode ter feito alguma coisa errada na primeira gestão dele, mas aprendeu. Está voltando agora e está voltando bem! Tudo que está acontecendo em relação à bolsa para os atletas, é graças ao Sr. César Maciel, ele foi atrás e conseguiu! Ter R$ 18.000,00 para treinar e material é uma coisa ótima. Não pode ficar um brigando com outro, é preciso ter mais união no esporte!

Quando falo das taças que é um exagero, quero dizer: façam-se as taças, mas a cada dois anos!

Na Bahia tem o Fábio Ribeiro, o boliche é um show lá. Ele pode tecnicamente não estar bom, mas, o carinho faz com que se esqueça isso. E é o importante! Eu quero ir lá e ser bem recebido. Se for planejado para acontecer a Taça Bahia, por exemplo, em anos pares, o pensamento terá de ser: eu quero que você venha a minha casa e será bem recebido, e não quero faturar em cima de você! Deu para entender? Tem-se dois anos para planejar, é como um mutirão que se fazia antigamente. Faz-se um bingo, arrecada-se dinheiro, patrocínio, e em dois anos, eu te trago aqui com um valor bem menor, com festas, confraternização, que é gostoso para todo mundo. Então deveriam se unir!

O que eu vejo de reclamação em torno da Bahia, não é do calor da Bahia, é que se chega lá e talvez o boliche não tenha condições técnicas. Agora sei que já estão com pinos novos, está melhorando.

Walter Costa (entrando na conversa) – Salvador deveria fazer torneios de oito dias com três linhas por dia!!!!

JV – Não, fazer torneios internacionais, para a gente se divertir!!

WC – Ai teria que ser vinte e quatro linhas, uma por dia!!!

JV – Meu coração agüenta, eu vou! Ele (Walter) queria jogar a taça São Paulo comigo e eu disse que não agüento jogar mais que duas partidas por dia!

Mas você está entendendo o que a gente está falando?? Nós deveríamos nos unir para que cada vez que você viesse para uma taça, não acontecesse isso que está se vendo aqui, todo mundo que jogou no primeiro turno foi embora, o segundo turno joga sem o menor prestígio.

Quando se jogava em Miami, terminava às quatro horas da tarde e era festa todo dia. Era uma confraternização. É isso que deveria ser o nosso esporte!

O ano que vem tem o Pan-americano, e ao invés de se pensar em quem poderia nos representar bem, as pessoas ficam brigando, dizendo que vai haver marmelada, esse é o mal de nosso esporte.

WC – Arrumaram uma eliminatória perigosa! Quem não tiver grana, pode correr o risco de não se classificar. Serão nove eventos com dois descartes. Você é obrigado a participar de sete. Para quem mora em Salvador, só vai ter um evento em casa, terá que sair no mínimo seis vezes. Haja dinheiro!

LP – Veiga, você hoje faz o que no boliche?

JV – Pode-se dizer que sou o “bombril” do boliche. Tudo começou em 19 de janeiro de 1960, eu estava em um casamento e na saída vi uma placa dizendo BOLICHE, entrei para ver o que era e pronto, nunca mais saí! Faz 46 anos que comecei esse movimento.

Qualquer evento que teve no Brasil começou através de mim.

Eu fico magoado de ver que nós não somos unidos, eu queria isso, que torcêssemos uns pelos outros. Se a Titila vai ganhar, ótimo, parabéns. Se eu ganhar, ótimo, parabéns também, entende? E não é assim, é aquele grupinho para lá, outro grupinho para cá. Um fala mal do outro. Na época em que a Titila começou a jogar, digo jogar mesmo, bem. Eu como sou normalmente o centro de tudo na organização, vieram me perguntar quem era a Titila, o que ela fazia, quanto ela ganhava, quem era o marido dela. Era assim. Então eu coloquei na internet (isso faz uns quatro anos): “aqueles ou aquelas que ligarem para mim para perguntar sobre a vida dos outros, e ninguém tem nada a ver com a vida dos outros, aviso que estou gravando as ligações e vou colocar no boliche para todos ouvirem”. Ninguém mais perguntou nada.

Nós temos que nos preocupar é em ser uma família unida para a gente fazer esse esporte crescer. Ele não cresce porque nós somos grupinhos. Precisamos crescer tecnicamente.

Não pode se tirar o mérito de um Márcio Vieira, Fabio Resende, João Carneiro, são jogadores de qualidade, mas, nós temos um aprendizado errado.

Se você está jogando em um boliche oficial, máquina oficial, condicionamento oficial, mas chega lá fora a coisa é diferente. O clima, a temperatura do boliche, das pistas. Qualquer um que joga um pouquinho de boliche sabe que quando está muito quente, o óleo é uma coisa, e quando está frio fica mais condensado, é outra coisa. Então, tem alguma coisa diferente. Por isso que os atletas vão para fora do país e não conseguem bater duzentos de média.

O principal é se crescer tecnicamente.

Boliche brincadeira é uma coisa, boliche esporte é dificuldade! Os profissionais treinam oito horas por dia, tem seus patrocinadores, batem média de duzentos e tanto, mas vivem para isso. Nós não temos isso, é outra realidade.

Não pode uma pessoa que fica um mês sem jogar, joga uma vez por semana e vem aqui e bate duzentos e vinte de média, essa não é real! Alguma coisa está errada. Não estou tirando o mérito de cada um não. Nós temos jogadores de qualidade, mas, não estão com o aprendizado certo para enfrentar uma competição internacional.

Se pensar que já ganhamos o Pan-americano no Rio de Janeiro, é um erro. Estão totalmente errados!

Outro dia me falaram: “você é ultrapassado Veiga”. Eu sou ultrapassado para quem disse, mas, eu tenho orgulho de minha experiência, que é muita por sinal. Porque as pessoas que estão aqui hoje jogando e sendo campeões, passaram por mim, não sou professor, nunca quis ser professor, mas eu dei as dicas daquilo que aprendi sozinho. São pessoas que possuem qualidade, mas não estão aprendendo tecnicamente as coisas certas.

Tuca Maciel contou que no interamericano que foi ele tremia feito “vara verde” para fazer um cento e oitenta. Ué, em um boliche igual ao que nós temos, alguma coisa está errada. A cúpula deveria parar para pensar, e já que temos um torneio internacional, colocar as máquinas com o programa certo. Vamos parar de ter esses pontos altos e achar que é a verdade, não é! Não é a realidade.

Dar incentivo para a quarta ou quinta divisão, eu acho bom, mas, para a primeira não! Já tem gente madura demais aí que precisa aprender a jogar boliche.

Estou dizendo a nível internacional, como um interamericano, um mundial, um pan-americano, onde realmente a coisa fica difícil.

Quando se pega os resultados, no primeiro dia todo mundo bateu 170. Isso analisando friamente, quer dizer que a bola de cada um não pegou o pino 1, pegou na cara do 3, sobram 3 pinos, fecha 170. No resultado do segundo dia, 185, mais ou menos. Significa que de 10 bolas, 5 eles colocaram no pino 1, bom. No terceiro dia vem com 190. No quarto dia bateram 200 de média. Precisaram de quatro dias para chegar a uma média razoável, por que já não saíram daqui sabendo a coisa certa?

Nós já podemos ter uma coisa melhor! Máquinas nós temos. E temos bons atletas. Acho que o que falta talvez seja um técnico, uma comissão que chamasse realmente alguém que entenda, porque técnico e furador de bola nós não temos nenhum aqui! Poderia trazer alguém de qualidade. Ao invés de se gastar para mandar alguém para um pan-americano, se trouxesse um técnico de verdade, uma máquina de verdade, no boliche que nós temos, colocando com as mesmas condições do lugar onde será a competição. Os atletas iriam aprender mais e poderíamos enfrentar o pessoal lá fora, pois nós temos qualidades. Estamos no caminho errado. Essa passagem de óleo, essa qualidade, alguma coisa está errada. Temos que ter uma diretoria que pense nisso e no futuro. Qualquer campeonato que acontece a média de idade dos atletas é de 40 anos. Quantos juvenis nós temos? Cadê os juvenis? Temos que pensar neles!

LP – Qual foi seu melhor momento no esporte até hoje?

JV – Em julho de 1980 quando eu estava no Rio de Janeiro e o boliche foi reconhecido como esporte. Porque foram 14 anos da minha vida dedicados a isso. O pouco dinheiro que meu pai deixou para mim, eu gastei nesses 14 anos.

Hoje minha vida financeira afundou por causa disso. Naquele momento que foi reconhecido foi a glória.

Outro momento foi em Miami, 1985, quando eu e Walter ganhamos o torneio das Américas, até então nenhum país sul americano tinha conseguido a conquista das duplas, e nós ganhamos. A emoção da última bola com todos os países atrás gritando o nome do Brasil, foi demais. Quando terminou nem eu nem Walter conseguimos cumprimentar um ao outro, apenas nos olhamos e deu aquela sensação de dever cumprido.

LP – E o pior momento?

JV – Eu tenho que agradecer a Deus. Hoje em dia, por exemplo, eu posso reclamar da situação financeira que eu tinha e não tenho, mas isso também não atrapalhou muito. Tenho tantos amigos que essa parte financeira a gente vai dando um jeitinho.

Eu consegui a minha meta.

Em 1963 eu formei o primeiro campeonato paulista junto com quatro amigos, fizemos a coisa crescer, e isso valeu a pena. Eu não me arrependo de nada do que fiz. Tem certas pessoas no meio do boliche que às vezes magoa a gente, mas, no meio de trezentos sempre tem isso. Fico chateado porque lutei para ver as coisas funcionarem, mas, o reconhecimento da maioria me deixa tranqüilo.

LP – Qual seu conselho para quem está começando no esporte?

JV – Primeira coisa é ter pontaria. Treinar muito é básico em qualquer esporte. Se você não tiver pontaria, gira a bola onde? 

Meu conselho é fazer o mais simples possível. Não invente.

Vamos nos unir pelo bem do esporte! Tentar conseguir baratear os materiais como bola, sapatos, para dar oportunidades para quem começa.

Pensar mais na juventude, investir mais neles!

[ TOPO ] [ VOLTAR ]