Olá!!!!!
O
entrevistado da vez é o que se pode considerar, digamos, o “Garfield”
do boliche.
Simpático, engraçado, bonachão, polêmico, de bem com a vida e como ele
mesmo se autodenomina: gostoso!
Nascido na cidade de Salvador, aos 32 anos e fazendo de tudo um pouco
profissionalmente, Mauricio Bezerra Maciel, ou simplesmente TUCA MACIEL,
é um nome representativo no ranking do boliche nacional.
LP –
Quando e como o boliche apareceu na sua vida?
TM – Apareceu em 1989, quando meu pai Zezito
Maciel, que já tinha sido campeão baiano algumas vezes na década de
60, me levou.
LP – E quando criança você acompanhava seu
pai ao boliche?
TM – Não. Só comecei a ir em 1989.
LP – Por quê?
TM – Porque em 1988 é que foi inaugurado o boliche do Brotas Center e
em 1989 o pessoal da “velha guarda” começou a chamar meu pai para
freqüentar o boliche.
LP –
Quando seu pai faleceu?
TM – Em 2001.
LP – Você
fuma ou bebe quando joga?
TM – Fumo quando é permitido, e quando não é fico sem fumar “numa
boa”.
LP – Quando começou a participar de eventos
nacionais?
TM – Meu primeiro evento nacional foi em 1991, e foi a primeira medalha
de nível nacional que a Bahia conquistou. Brasileiro de Clubes de 1991,
eu jogando na 2.ª divisão. Prata na fase individual.
LP – Como é ser um dos melhores atletas da
Bahia?
TM – (Sorrindo). É legal, mas, você precisa matar um leão a cada dia.
O torneio que não se está entre os três primeiros, pronto, já vem várias
pessoas falando que você não joga mais nada, desaprendeu, etc, etc. Se
você não estiver bem, as críticas vêem de “monte”.
LP – Você tem a obrigação de estar sempre
entre os primeiros?
TM – Sempre. É o mesmo caso que acontece a nível nacional com o Walter
Costa, o Fábio Rezende, Juliano Oliveira, Márcio Vieira, Caco Cruz,
Rodrigo Hermes, o Marcelinho Suartz agora. Entre outros que eu possa ter
esquecido no momento.
LP – Você tem patrocínio para suas
viagens?
TM – Algumas vezes eu corro atrás e consigo, mas, ultimamente tenho
viajado com recursos próprios.
LP – Qual sua colocação no ranking
nacional?
TM – Estou em 10.º, mas, devo aparecer agora em 8.º já que o
Marcelinho e o Juliano não jogaram esse último evento. Sei que é
irreal. A posição correta deve ser em 11.º porque o Márcio também
falta um evento no ranking.
LP –
Chances para o Pan-americano existem?
TM – (Sorrindo). Apenas um sonho.
LP – Mas,
você está participando de todos os eventos necessários para a
classificação ...
TM – É, estou. Pode se ter três descartes. Para eu me classificar para
o Odesur, tenho que praticamente ganhar dois eventos e ficar em 2.º nos
próximos dois. Faltam quatro.
LP – E o
sul americano?
TM – É a mesma coisa. O critério é basicamente o mesmo. Tem que
classificar para o Odesur, depois tem só mais um evento e se classificar
para a seleção permanente entre os quatro para o PAN. E o técnico vai
decidir os dois atletas entre esses quatro que irão participar do PAN.
LP – Então você tem chance?
TM – Poucas. Digamos que 1%. Mas tenho. (risos)
LP – Como foi em Costa Rica no
interamericano? Você contou para Veiga que tremeu “feito vara verde”!
O que aconteceu? (Pergunta feita a pedido de Tuca).
TM – Não é verdade. O que eu comentei com Veiga, foi
que eu cheguei despreparado para o torneio. Eu fui chamado no domingo para
viajar na quinta-feira. Não tive tempo para preparar equipamento, comprar
equipamento, pois estava com tudo velho. Fiquei triste com isso, mas, foi
uma experiência maravilhosa e com certeza em uma convocação futura,
caso eu consiga, eu irei muito melhor preparado.
LP – Foi
a primeira vez que jogou fora do Brasil?
TM – Competindo sim. Eu
já tinha ido para o mundial no Japão. Eu classifiquei para o AMF de 1998
em Kobe. Mas, classifiquei com handicap, então fui para assistir o
campeonato. Bati uma bolinha lá também, porém, sem competir!
LP – Você acha o critério de ranking
brasileiro justo?
TM – O que eu não acho justo é ter descarte. Acho que deveria ter o mínimo
de eventos e valer a média de pontos conquistados pelo atleta. Ou seja,
se o atleta jogou seis eventos, valerem os seis, é o mínimo de eventos.
Se jogou dez, valerem os dez. Faz a média de pontos e não se tem
disparate de dizer que jogou em boliche mais fácil, mais difícil. Vai
ser a média de pontos, esquece os pinos. O descarte só faz a pessoa que
possui um maior poder financeiro ter vantagem, porque ele pode participar
de todos e pode descartar os ruins. A pessoa que não tem, poderia se
programar e participar de um evento a cada dois meses, por exemplo, vai
valer igual ao outro que vai a todos. Média de pontos. Todos que ela
jogou vão valer! O atleta que jogou todos os eventos vai valer todos também!
Com descarte, quem jogou mal um evento e pode viajar sempre, esse evento
ruim não contará para o ranking. O ranking se torna um “ranking
financeiro”!
LP – Como você enxerga o boliche na Bahia?
TM – Acho que é uma das federações melhor organizada e a cada evento
vem mostrando um crescimento tanto técnico como na parte da organização.
Temos o Tiago que esbanja competência e rapidez na divulgação dos
resultados, e nosso site também é mantido sempre atualizado. Alguns
jogadores estão aparecendo, como o caso da Titila Alvarez, que há dois
anos atrás era apenas mais uma que viajava de vez em quando. Hoje temos
nomes que estão crescendo aqui em Salvador, como o Billy Drigla, o
Gabriel Cezimbra, que agora parece que vai acontecer, pois é uma promessa
já uns cinco anos. (risos). O Flavinho Alvarez (filho da Titila) também
vem crescendo muito. O Carlos Salgado está viajando sempre e está
querendo aprender e melhorar o jogo dele tecnicamente. O Asdrúbal está
voltando a viajar, e tecnicamente falando eu o considero o melhor da
Bahia.
LP – Qual a colocação de Carlos Salgado
hoje no ranking brasileiro?
TM – Décimo terceiro.
LP – Até que ponto existe rivalidade entre
vocês?
TM – A rivalidade dentro da Bahia, eu diria que até a morte!! (risos).
Mas, fora da Bahia, somos parceiros. (risos).
LP – Então, são amigos?
TM – Sempre!
LP – Valeu a pena participar da clínica de
Fred Borden?
TM – Muito. Foi uma das melhores coisas que a CBBOL já fez. Algumas
vezes critiquei a CBBOL, mas, dessa vez ela deu show! Ele é o melhor do
mundo. Ele pediu uma mudança minha no approach, e muitos amigos nesses
dois últimos eventos, na taça Morumbi e taça BH me criticaram por ter
mantido meu jogo e não ter mudado como ele mandou. Só que eu segui o que
ele mandou, ele disse: não mudar em competição, ir treinando para
depois fazer a mudança. Esse treinamento eu comecei na terça-feira dia
27/06 e vou dar continuidade. Quero tentar (tentar!!) jogar o brasileiro
individual já sem a minha famosa “bazuca”.
LP – O que é “bazuca”?
TM – É aquele meu braço esticado na saída. (risos).
LP – Vai
mudar?
TM – A intenção é essa. É uma coisa que vem dando certo, até certo
ponto no meu jogo. Eu sei que é errado, tenho que mudar e o Fred me
ensinou como fazê-lo. Espero fazer a mudança já no brasileiro.
LP – Você não acha que é uma hora errada
para mudanças?
TM – É isso, vou treinar e se no meu treinamento eu não obtiver números,
resultados, a velha “bazuca” entra em campo.
LP – Time que está ganhando não se mexe!
TM – Pois é, mas, o time não está ganhando (gargalhadas). Está
precisando de algumas alterações. (risos).
LP – Seu
melhor momento no esporte ...
TM – Poucos podem acreditar, mas, não foi o meu brasileiro juvenil de
1994, que eu tenho muito orgulho, não foi o brasileiro de duplas de 2002
que eu ganhei com Fábio Rezende. Foi a Taça Bahia de 2001. Eu vinha
jogando muito mal, meu pai estava muito doente, nas últimas, e o Asdrúbal,
por quem eu sou grato eternamente por causa desse gesto, me entregou uma
sacola com três bolas antigas, porém com pouquíssimo uso e disse: fura
para você. Eu mexi na furação das bolas, apenas no polegar, joguei com
o span dele, treinei escondido. Meu treino foi 236 e 278, guardei o
equipamento e não treinei mais para a taça. Foi um evento onde o Walter
bateu uma linha de 300, Juliano bateu uma linha de 300. Walter terminou
com 209 de média, Juliano com 203, eu com 215. Além de ganhar o all
events, ganhei a dupla tendo que fazer um quadriligue no final. Na taça
Rio de 2000 eu já tinha conquistado essa mesma média, só que esse foi
meu melhor momento porque foi a última alegria que eu dei para meu velho
(um pouco triste), que foi quem me ensinou a jogar boliche!
LP – Pior
momento?
TM – (Muito pensativo).
A decepção que tive de não ir para dois mundiais juvenis, sendo que
estava sempre classificado para jogar.
LP – E não foi por quê?
TM – Não fui porque, em 1994 Fábio Rezende era o primeiro e eu o
segundo do ranking. De uma hora para outra, apareceu critério de convocação
que era apenas um torneio como eliminatória. O ranking virou de ponta
cabeça! Em primeiro lugar na eliminatória ficou Felipe Resende (MT), em
segundo ficou Fábio Grossi (DF), que é meu amigo, e que era a pessoa que
alguns “cartolas” gostariam que fosse em meu lugar. Eu fiquei em
terceiro e o Fábio Rezende ficou em quarto. Nesse tempo, até o mundial
de 1992, só dois atletas eram convocados e o regulamento foi mudado. Os
dirigentes disseram que não receberam o comunicado, os atletas que
viajaram disseram que nem leram, eu não sei o que aconteceu, não vou
afirmar. Só sei que os dois merecedores que eram o Fabinho e eu, não
foram para o mundial. Em 1996, eu era o segundo no ranking e apareceu o
Juliano fazendo um torneio fantástico em Brasília, me atropelou e foi
para segundo no ranking. Eu caí para quarto lugar e iriam quatro atletas,
só que três pelo ranking e um pela vaga técnica. Foi levado na quarta
vaga o Rodrigo Pinto (um belíssimo jogador e amigo meu). Só que alegaram
que ele foi levado, convocado, pelo seu caráter. Desde quando ser
bonzinho derruba pino eu não sei!
LP – Títulos conquistados que considera
importante ...
TM – O brasileiro juvenil de 1994, o brasileiro de duplas de 2002, o all
events na taça Rio de 2000, onde só fiquei atrás do Arthuro Quintero (México),
all events no brasileiro de clubes em 1999, fui primeiro, tri campeão da
taça Bahia, bi campeão da taça BH, campeão da taça Rio (duplas) e bi
all events da taça Bahia também.
LP –
Melhor jogador do Brasil hoje ...
TM – Hoje para mim é o Fabio Rezende. Mas, o maior potencial fico em dúvida
entre o Rodrigo Hermes e o Marcelinho Suartz. E tecnicamente acho o
Juliano Oliveira e o Márcio Vieira.
LP –
Melhor jogador da Bahia atualmente ...
TM – (Sem o menor constrangimento). Os números falam sozinhos. (risos).
LP - Querendo
se redimir da resposta, solicita novamente a mesma pergunta, respondendo:
Titila Alvarez.
LP – Melhor jogador que você já viu em ação
...
TM – Tenho dúvidas quanto ao Tim Mack (USA), o achei fantástico, o
Daniel Falconi (México) que é campeão pan-americano, campeão do
interamericano que eu estava lá, o Mario Quintero (México) é outro
grande jogador. Sem falar no nosso “velhinho”, o Walter, que quando
está treinado e a fim do jogo, é “encardido” (risos).
LP – Sua
maior virtude como atleta.
TM – Não ter medo de arriscar. Mexer-me. Posso bater, como bati em uma
final com o Marcio Vieira, 127 (risos), que tristeza, ai,ai, (risos), mas,
nessa linha joguei em todas as setas até de canhoto eu tentei jogar.
LP – Giro
ou pontaria?
TM – A união dos dois.
Os dois se completam. O giro faz a bola bater mais forte e a pontaria é
imprescindível. Sem um o outro fica fraco.
LP – Qual
o melhor torneio na Bahia?
TM – O internacional nosso, porque tem o “match play” no final que
é emocionante, vem o pessoal de fora, é festivo, o Master onde se pode
ver quem é o melhor da Bahia, e sem handicap, né? Não esquecendo de
nossa Taça Bahia que hoje é um dos eventos mais tradicionais de nosso
calendário, onde recebemos os amigos de outros estados do Brasil.
LP – Qual
sua meta como atleta?
TM – Virar um Márcio, Juliano, Walter, Fabinho. Ou seja, praticamente
cadeira cativa na seleção. (risos). Quem sabe um dia, (risos).
LP – Que conselhos daria para quem está
começando agora no esporte?
TM – Tentar observar os melhores jogadores, porque quando você começa,
você cria seu estilo, então, se puder se mirar no estilo de um grande
jogador, é o melhor caminho. Se começar com muitos vícios errados, é
complicado de tirar. Minha “bazuca”, por exemplo, está difícil, mas
eu vou tirar. (risos).
LP – Para algumas pessoas você é
considerado “problemático e polêmico”. O que acha disso?
TM – Não, eu brigo pelo o que eu acho certo. E inclusive não é só a
nível de Bahia. Já houve torneio de eu chegar para o Veiga e dizer que o
Esporte Clube Bahia não entraria na pista enquanto não estivesse tudo
correto. Nesse caso, no brasileiro de clubes, eram duas duplas masculinas
e uma feminina por pista, e quando eu olhei, a minha pista era a única
que tinha duas duplas femininas e uma masculina. Estava errado. Quando
olho para o lado, tinha uma pista (como o pessoal gosta de falar) de
“estrelas”. A dupla de Davi Barata, que hoje já não joga mais, uma
do Walter, aliás, eu acho que era Walter e Davi Barata, Caco e Juliano e
a dupla de Márcio e Bruno. Eu disse que não jogaríamos enquanto não se
colocasse as pessoas nas pistas certas. Tinha que ser duas duplas
masculinas e uma feminina em cada par de pistas. Então, se eu achar que
estou com a razão, eu vou brigar até que me prove ao contrário.
LP – Você sempre é apontado como causador
de “jogo lento”.
TM – É complicado porque eu não vejo onde faço jogo lento. (Sorriso).
Agora, jogo com parceiros que todos sabem que fazem jogo lento, como o
Rodrigo, Fabinho. A reclamação de meu jogo lento é de nível nacional,
aqui na Bahia não existe isso. Eu sempre estou com parceiros que
realmente são lentos para entrar na pista, demoram concentrando, mas, não
sei, sou culpado até a hora que prove ao contrário.
LP – Jogo
lento deve ser punido?
TM – Deve haver, mas, desde que se coloque uma regra em que se cumpra
para TODOS. Não pode acontecer de se cumprir para A, B, ou C, e para
“fulano” que é uma pessoa influente não. Isso eu sou contra.
LP – O que você precisa para ser feliz?
TM – (Muito reflexivo) Ser feliz.
LP – Qual o defeito que detesta em você?
TM – (Bastante surpreso e pensativo) Defeito em mim? Não sei, eu sou um
gordinho gostoso, (risos), não sei o que posso falar que eu detesto em
mim! Gargalhadas!
LP – O
que mais despreza em uma pessoa?
TM – Falsidade.
LP – Do que se arrepende?
TM – (Algum tempo calado) Do que não fiz.
LP – Uma música inesquecível ...
TM – “O último romântico” de Lulu Santos.
LP – Um
filme ...
TM – (Pensa,pensa,pensa...) São tantos...OK, “Tempo de matar”.
LP – Um
livro ...
TM – (Meia hora
pensando) Serve minha coleção educativa da PlayBoy? (risos). Tá bom!
“O Xangô de Baker Street” de Jô Soares.
LP – Herói preferido na ficção ...
TM – Não tem pergunta mais fácil não?? (risos). Superman que é a
mascote do Esporte Clube Bahia.
LP – Quem
levaria para uma ilha deserta?
TM – (risos). Tem um monte de gente. (risos). Eu gosto de um cardápio
variado!
LP - Depois de muito pensar, eu sugiro Carlos
Salgado ...
TM - .. com aquele ronco nem por um decreto! (risos)
TM - Vamos para uma global: Mônica Carvalho.
LP – Quem deixaria lá para sempre?
TM – (risos). Carlos Salgado. (risos).
LP – Qual
seu maior medo?
TM – Ter algum problema físico e ter que parar de jogar.
LP – Refeição preferida?
TM – Qualquer uma, desde que seja com o prato cheio e grande! (risos).
LP – Uma mulher bonita?
TM – Mônica Carvalho de novo, mas, minha mãe também.
LP – Um
homem bonito?
TM – (Rapidamente) Pô, tô sem espelho agora! (risos).
LP – Uma recordação da infância.
TM – (Pensa muito...) Festa de São João, viajava com
toda a família, ficava soltando foguete com meu pai, meu irmão. Era bem
legal.
LP –
Perfume?
TM – Pólo azul.
LP –
Cantor?
TM – Mamonas Assassinas. (gargalhada).
LP – Cantora?
TM – (Não pára de rir) Ivete Sangalo.
LP – Ator?
TM – Robert de Niro.
LP – Atriz?
TM – Sandra Bullock
Entrevista concedida em 29/06/06