Olá!!!
Continuando
em ritmo de Pan-americano, MARIZETE
SCHEER se classificou entre as quatro atletas para os jogos.
Paranaense, 32 anos, solteira, muito simpática, extrovertida e divertida,
consegue com seu jeito de menina “moleca” ser uma mulher de
“fibra” e “guerreira”.
Na data dessa entrevista não era sabido
ainda a escolha pela comissão técnica das duas atletas oficiais para os
jogos no PAN. Tenha fé e não desista nunca de seus sonhos! Você merece
ser feliz!
Foto:
Lu Pitangueira
Lu Pitangueira
– Como e quando o boliche apareceu em sua vida?
Marizete
Scheer – Foi no início
do ano de 1994. Eu morava no Mato Grosso e fui brincar
de jogar boliche com uns amigos, quando um amigo me viu jogando e disse:
nossa como você joga bem ... Eu não acreditei, mas ele insistiu e disse
que iria ter um campeonato amador e gostaria que eu participasse, pois
estavam precisando de mulheres para jogar. Ainda tínhamos alguns dias
antes do campeonato e ele disse que me treinaria. Eu aceitei. Treinei uns
dias com ele e fui jogar o torneio. De sete mulheres eu fiquei em
primeiro! (Risos)! Eu fiquei feliz demais!! Todo mundo disse que eu tinha
que continuar jogando. Depois disso eu não parei mais, e nesse primeiro
ano de boliche (1994), já fui para a Seleção Mato-grossense, pois já
tinha me federado e jogado durante o ano os torneios pela federação. Fui
jogar meu primeiro torneio a nível nacional no Rio de Janeiro, que foi o
Brasileiro de Seleções de 1994. Foi onde realmente começou minha
carreira. Em abril de 1995 me mudei para o Rio de Janeiro, me casei com
Bruno e fui para lá, deslanchando
minha carreira.
LP
– Você é paranaense, como foi morar no Mato Grosso?
MS
– As pessoas do sul do país vão muito ao Mato Grosso. Meu pai gostava
de lavoura, terra, e já tinha uma irmã que morava lá. Ele foi conhecer,
gostou, comprou uma fazenda e ficou. Está lá até hoje. Morei no Paraná
até meus doze anos, fui para o Mato Grosso, saí para o Rio de Janeiro
com 19 anos. Fiquei sete anos no Rio, e com 26 vim para Minas, onde já
estou também há sete anos.
LP
– Sempre jogando boliche?
MS – Sempre jogando boliche.
Eu parei por dois anos. Em 1998 porque eu engravidei, e era uma gravidez
de risco. Eu perdi o neném. Em 1999 porque eu comecei a trabalhar no
Barra Bowling e funcionário não podia jogar na época, então tive que
parar. No fim do ano de 1999 vim para Belo Horizonte trabalhar no Boliche
Del Rey e foi quando eu voltei a jogar. Trabalhávamos eu e Bruno. Com
mais ou menos um ano aqui em Minas, nos separamos e ele voltou para o Rio
de Janeiro. Hoje ele mora em Angra dos Reis.
LP
– Você fuma ou bebe quando joga?
MS
– Não. Nem fumo e nem bebo. Nunca fumei.
LP
– Você teve e tem hoje alguém que lhe acompanhe tecnicamente?
MS
– Não. Quando me casei e morava no Rio de Janeiro, Bruno (que joga até
hoje) me treinava bem e tive umas aulas com Lula Veloso, que me ensinou
muito.
Em Belo Horizonte
o Décio Abreu me ajudou bastante também. Hoje minha vida é treinar, mas
sem alguém me ajudando. Treino sozinha ou com a Jacque Costa. A gente
procura de vez em quando treinar juntas. Não tenho uma pessoa que fique o
tempo todo me orientando, mas todas as pessoas que estão próximas de mim
estão sempre me ajudando, o Walter Costa por exemplo.
LP –
Qual foi sua primeira participação internacional?
MS – Foi um Mundial Juvenil
em 1996. Depois disso joguei o Torneio das Américas duas ou três vezes,
não me recordo. Em 2004 joguei o Sul-americano em Montevidéu, 2005 o
Interamericano na Costa Rica e esse ano (2006) o ODESUR na Argentina.
LP
– Seu melhor momento no esporte?
MS – Foram dois melhores
momentos. Quando eu bati vários
recordes na Taça Morumbi (2004 ou 2005, não lembro), fiz média de 245
em seis linhas, saiu até publicado em uma revista de boliche
internacional e no Sul-americano em Montevidéu com o Fabio Resende, onde
nós também batemos recordes e ganhamos medalha de ouro. Foi minha primeira
medalha de ouro em Sul-americano, esse eu não esqueço nunca,
maravilhoso!
LP
– Pior momento?
MS – Foi quando eu fiquei de
fora da seleção para jogar o ODESUR que teve aqui no Brasil. Fui jogar a
última eliminatória no Rio de Janeiro e resolvi no penúltimo dia, no sábado
a noite ir ao Sambódromo ver o carnaval, eu nunca tinha ido e fui. Estava
em primeiro lugar no torneio e no all
events. Quem disse que eu conseguia jogar no dia seguinte? Eu não
conseguia. Joguei muito, muito mal e fiquei de fora da seleção. Foi o
pior momento. Fiquei de fora por falta de maturidade.
LP
– Aprendeu alguma coisa com isso?
MS – Aprendi muito. Depois
disso sei o seguinte: se você quer se dedicar ao esporte, tem que ser
apenas o esporte. Farra, gandaia
não!Hoje se vou para algum lugar, volto cedo para dormir. Já fiz muita gandaia, sim, mas depois do torneio! Acabou? Aí vou beber, vou
comemorar, vou relaxar. Durante não! Essa foi uma lição para mim!
LP –
Seus títulos mais importantes?
MS
– Sul-americano de 2004 que não esqueço. Taça Morumbi onde bati
meus recordes e o ODESUR de agora (2206). Foi importantíssimo,
maravilhoso, as medalhas que trouxemos, foi ótimo.
LP –
O ODESUR então foi bom?
MS
– Foi bom, satisfatório. Minha pior série foi 187 de média. Tirando o
Máster que são as 16 últimas linhas do torneio, nas 24 linhas minha
pior série foi 187, então foi bom. Terminei com 195 de média, em 7.º ou
8.º lugar (não peguei a última listagem). A Jacque ficou uma posição
na minha frente e a Roseli terminou em 4.º lugar. Foi bom, maravilhoso.
LP –
O que achou das eliminatórias para os jogos do Pan-americano?
MS – Foram cansativas.
Pegamos condicionamentos de pistas difíceis, muitos torneios com pouco
espaço de tempo, um em cima do
outro. Mas acho que foi satisfatório. Acredito que todos os atletas
(feminino e masculino) que estão disputando a classificação, estão ali
porque estão merecendo. Todo mundo lutou muito, correu
atrás mesmo das vagas para conseguir alcançar o objetivo. As
dificuldades das pistas e os treinos nesses condicionamentos serviram
muito para o ODESUR. Serviu como lição. Eu reclamava muito do
condicionamento aqui, mas lá na Argentina estava igual. Aprendemos muito
e sei que só podemos melhorar, melhorar, melhorar! Foi cansativo, mas foi
justo. As quatro atletas classificadas conseguiram por merecimento. Quem
ficar de fora ficará muito triste, porque vamos treinar, treinar e
treinar, e na hora vão ter que escolher apenas duas, vai ser muito
triste, mas ...
LP
– Quem escolherá os dois atletas?
MS – Até onde sei, será o
Fred Borden, que é o técnico americano que irá treinar a gente.
LP
– Quem são as quatros atletas femininas?
MS
– Eu, a Jacque Costa, Roseli Santos e Roberta Rodrigues.
LP
– Você acredita que o Brasil tem realmente chances de medalhas?
MS
– Tem. Nós temos chances de medalhas, mas temos que treinar muito!
Precisamos de treinamento específico e se dedicar a isso. É uma coisa
que não está acontecendo muito, porque a gente precisa trabalhar cuidar
de outras coisas, não temos o tempo inteiro para se dedicar como outros
países, que treinam oito horas por dia. Nós não temos essas condições.
As atletas são de estados diferentes do Brasil, não tem a menor condição
de formarem uma seleção para ficar o tempo inteiro junto treinando! Eu
trabalho dentro do boliche, mas não tenho o tempo inteiro para treinar,
eu tenho outras funções aqui dentro! Não tenho treinador e nem tempo
integral para ficar treinando. Se esse técnico vier mesmo, deve ser feito
um trabalho mais firme, passar mais tempo treinando, olhando material,
etc. Os Estados Unidos não é bobo, Venezuela, são países muito fortes.
Nós já ganhamos da Venezuela, mas elas são bem fortes e virão com
tudo. Estão treinando há bastante tempo e farão as eliminatórias em
janeiro ou fevereiro de 2007. Não treinaram uma ou duas. Há muito tempo
que vêem treinando com todas para agora escolherem as duas.
LP –
O que você acha do boliche onde vão acontecer os jogos no Rio?
MS
– Está previsto para ser no Barra, mas pode haver mudanças. Pode ser no
Norte Shopping, no boliche novo. É o mais provável, então será um
boliche novo para todos. Ninguém vai conhecer, nós é que deveremos
treinar lá. Deveremos arrumar alguns
finais de semana para ir ao Rio, apesar de nosso calendário de torneios
continuar acontecendo. Vai ser complicado para gente da seleção, pois além
dos torneios ainda teremos que ir ao Rio de Janeiro para treinar. Quer
paga as despesas?
LP
– Você tem patrocínio?
MS – Não, não tenho. Eu
tenho o “bolsa atleta” que praticamente me sustenta também. São R$
1.500,00 por mês, mas que para se jogar um torneio apenas, os custos são
altos, você sabe. E nós temos praticamente um torneio por mês. O
dinheiro do “bolsa atleta” é para isso, e material, e tudo o mais?
Difícil para gente!
LP
– Melhor jogador do Brasil hoje?
MS – É difícil falar.
(risos) No feminino acho a Jacque fantástica, não tem o que discutir.
Alto nível e alto astral. No masculino são vários, Fabio Resende,
Marcio Vieira e Rodrigo Hermes são fantásticos também. Marcio Vieira
sempre ali pisando no calo de
todo mundo, não dando chances para os meninos, joga muito, torço muito
por ele. Acho que é um grande atleta que nós temos!
LP
– E da Bahia?
MS
– Titila e Rodrigo Hermes, (risos). Tem o Tuca Maciel também.
LP –
Melhor atleta que já viu jogar?
MS – Daniel Falconi do México.
LP –
Que conselhos daria para alguém que esteja começando hoje no esporte?
MS
– Tenha muita concentração, muita disciplina, prestar muita atenção nas
setas. É o que eu falo para meus alunos: olho na seta!! Mas em
primeiro lugar o “approach”, tenha um bom approach.
Em minha opinião 90% é o approach.
Com isso você consegue fazer um bom arremesso.
LP
– Os canhotos,
como você, levam vantagem no jogo?
MS – É tem essa historinha
né? (Risos). Leva, em alguns aspectos sim. São poucos canhotos então não
existe muito traço na pista. Mas se estiver muito difícil para a gente, fica
mais difícil ainda, pois tem menos pessoas jogando, entende? Não tem
ninguém jogando por ali, não seca a pista nunca, então se estiver muito
difícil, vai continuar difícil. Enquanto que para destro não. Se
estiver difícil, vai dar uma melhoradinha.
E quando está fácil, todos dizem que a pista foi preparada
para canhoto. (Risos). E quando os destros ganham? Então a pista foi preparada
para os destros. (Risos). Eu não entendo. (Risos).
LP
– Sua maior virtude como atleta?
MS – Paciência. Se não
estou fazendo strikes, mas estou
jogando bem? Tenho paciência, faço muitos spares.
LP
– Entre todos os torneios que temos no Brasil, qual você mais gosta de
participar?
MS – Adoro jogar a Taça
Bahia. (Risos). Acho que na Bahia o astral é legal,
todo mundo brinca, tudo é tranqüilo, sem estresse, acho ótimo jogar lá!!
LP –
Suas metas como atleta?
MS
– Agora é o PAN. Já entrei na seleção das quatro, agora é estar no
PAN! Minha meta é essa, vou lutar por isso até o fim, vou mostrar nas
pistas que tenho condições de estar lá, porque independente disso, de
eu ir ou não para o PAN, a minha carreira vai se encerrar no PAN.
LP
– Como assim encerrar?
MS
– Eu tenho depois disso outros objetivos. Quero constituir uma família,
quero me dedicar ao trabalho. Eu não tenho férias, não consigo viajar
para casa da minha mãe, minha família mora no Mato Grosso, faz dois anos
que não os vejo. Eu troco minhas férias no trabalho pelas minhas viagens
para jogar, então não sobra um tempo para ver a família. Eu não posso
dizer que se encerra no PAN, mas acredito que se eu voltar será em 2008.
Tenho realmente outros objetivos. Adoro trabalhar dentro de um boliche.
Acho que só estou jogando boliche porque eu trabalho dentro de um, e
adoro. Adoro o público de boliche, os federados que ninguém gosta, eu
adoro (risos), trabalho feliz dentro de um boliche. Mas eu gostaria de me
dedicar a outra profissão talvez. Que eu possa ter um final de semana
dentro de casa, com família. Não é isto que estou tendo. Vivo no
boliche, todos os dias. Não estou conseguindo viver minha vida de outra
forma, só boliche, boliche e boliche.
LP
– E com outro emprego, família, não se pode jogar boliche?
MS
– Pode, mas é que em outro emprego a empresa tem que aceitar que você
viaje para jogar os torneios. É complicado, eu sei que é. Só estou até
hoje trabalhando dentro de um boliche, porque me permite viajar. Sim,
trocando pelas minhas férias, mas me permite!
LP
– Do que você precisa para ser feliz?
MS – Eu quero constituir uma
família. Quero ter um filho. É o meu objetivo também depois do PAN. Vou
constituir uma família ou vou ter meu filho independente disso. Acho que
a gente não precisa ter um marido para se ter um filho!
LP
– Um defeito que detesta em você.
MS
– Como atleta de boliche é: jogar mal e ficar mal humorada. Preciso
melhorar isso. Fico mal humorada comigo e acabo passando isso para as
pessoas, ninguém precisa compartilhar com isso (risos).
LP
– O que mais despreza em uma pessoa?
MS
– A falta de caráter.
LP
– Do que você se arrepende?
MS
– Muitas coisas. Fazemos algumas coisas na vida que depois nos
arrependemos e não tem como voltar atrás infelizmente, mas a gente tenta
apagar.
LP
– Uma música inesquecível.
MS – “Se” de Djavan.
LP
– Um filme inesquecível.
MS
– A história de um milagre, com Tom Hanks.
LP
– Um livro.
MS – O Código Da Vinci.
LP
– Herói preferido na ficção.
MS – Superman.
LP
– Quem levaria para uma ilha deserta?
MS – Nossa! Não sei. Uma pessoa especial, que no momento eu não tenho.
LP
– Quem deixaria lá para sempre?
MS
– Os políticos corruptos.
LP
– Qual seu maior medo?
MS
– De solidão.
LP
– Refeição preferida?
MS
– Comida japonesa.
LP
– Uma mulher bonita.
MS
– Angelina Jolie.
LP
– Um homem bonito.
MS
– Brad Pitt.
LP
– Uma recordação de infância.
MS
– São várias, eu morava em um sítio, no Paraná ainda. Nós somos
sete irmãos e como lá é muito frio, nós brincávamos demais dentro de
casa. A casa era bem grande, então minha mãe encerava o chão e nós pegávamos
as calças de meu pai, vestíamos, tirávamos os móveis da sala do
caminho e ficávamos lustrando o chão que era de tábua corrida, um
puxando o outro, escorregávamos, corríamos e batíamos nas paredes,
(risos), era muito bom.
LP
– Perfume preferido.
MS
– Bvlgari, Blue Woman.
LP
– Cantor e cantora.
MS
– Djavan e Ana Carolina.
LP
– Ator e atriz.
MS
– José Mayer e Fernanda Montenegro.
LP
– Tenho mania de ..
MS
– ... arrumar o meu cabelo.
LP
– Quando quero relaxar ...
MS
– ... deito e durmo.
LP
– Gostaria de ser por um dia ...
MS
– ... famosa.
LP – Adoraria
aprender ...
MS
– ... cozinhar.
LP
– Ainda quero ...
MS
– ... ter um filho.
LP
– Meu sonho é ...
MS
– ... jogar o PAN.
LP
– Melhor presente que ganhei ...
MS – ... uma máquina fotográfica.
LP –
Que animal você gostaria de ser?
MS
– Um cachorrinho.
Entrevista concedida em 09/12/06