Olá!!!!!

Simpático, educado, prestativo e gentil. São elogios que cabem perfeitamente ao entrevistado da vez. Esse mineiro de 47 anos, nascido em Belo Horizonte, é casado, tem dois filhos e tem como profissão: Administrador. Durante o Campeonato Brasileiro Individual realizado no Rio de Janeiro, apesar dos inúmeros compromissos e reuniões, CESAR MACIEL, nosso Presidente da Confederação Brasileira de Boliche, com muita boa vontade e atenção conseguiu um “tempinho”, no meio de tanto barulho e confusão, para esse bate papo. Obrigado César!

Lu Pitangueira – Como o boliche apareceu em sua vida?

César Maciel – Nem todos conhecem, mas, no boliche nós temos duas modalidades: 9 e 10 pinos. Eu sou sócio do Clube Cruzeiro em Belo Horizonte e pela sua origem italiana tem o boliche de 9 pinos. Desde muitos anos, mais de 30 (risos), eu já praticava o boliche de 9 pinos, que tem a tradução no Brasil de “bolão”. Em 1981 fui fundador da Federação Mineira de Boliche e de lá para cá, fizemos parte da fundação da Confederação Brasileira, da Diretoria de boliche, e o primeiro campeonato brasileiro em 1981, só aconteceu porque Minas Gerais foi o terceiro estado a participar. Na época só existiam torneios no Rio de Janeiro e São Paulo. Então, com a fundação da Federação Mineira (ao qual eu tive o prazer de ser um dos fundadores), nós conseguimos que o boliche começasse a ter Campeonatos Brasileiros. Foram três estados e Brasília naquele ano participou como convidada. A Confederação Brasileira foi fundada em 1992. Tivemos dois presidentes antes de mim. Na realidade, três, porque no ano passado tivemos a infelicidade do presidente precisar renunciar, mas no mandato completo tivemos até hoje apenas dois presidentes. Estou em meu segundo mandato, (não reeleito porque não fui candidato à reeleição), mas, por uma questão de renúncia, primeiro do Caco e depois do Clair, foi feito um consenso e principalmente visando os jogos Pan-americano, eu aceitei essa missão importante que era voltar. Mas, sinceramente não eram meus planos porque acredito que a renovação, quanto maior, mais importante.

LP – E você parou de jogar?

CM – As atribuições de presidente da confederação são pouco compatíveis, ao meu modo de ver, com a vontade de praticar em alto rendimento. Participo quase que de dois em dois anos de alguns novos torneios, porque acho que inclusive é bom estar na prática para ter uma condição de ver o que os atletas estão sentindo nas pistas. Mas, nesse período nunca deixei de comparecer às clínicas, fiz cursos de técnico, de árbitro internacional e acho que isso tudo faz com que a gente esteja participando. Não consigo entender, principalmente em um esporte tão novo, que o presidente seja aquele já aposentado, porque muitas das aspirações do atleta, se a gente está totalmente fora não é só com a diretoria que a gente vai saber, acho que o presidente tem que estar no dia a dia. Eu participo muito mais de taças, quem sabe em Minas ou algum campeonato brasileiro. Mas, como atleta competitivo, como já tive o prazer de ser campeão brasileiro, não individual, e sim campeão brasileiro de clubes, já fui seleção brasileira em 1993 e também participei de várias seleções mineiras, não tenho mais essa pretensão.

LP – Como está a Confederação hoje?

CM – Em um trabalho sério de renovação e preparação para o Pan-americano que é o principal objetivo no momento. Essa renovação, eu gostaria de colocar, que ao assumir em 2001, meu primeiro projeto foi estender o conhecimento para um número maior de estados do Brasil, e mesmo dentro dos estados, para um número maior de pessoas. Uma coisa que pecamos bastante é com uma falta de renovação. Porque eu não entendo como renovação, atletas que já começam a jogar com mais de vinte, vinte e cinco anos. Por ser um esporte não tão caro, mas que possui um custo para sua prática, nem sempre você consegue jovens que deixem o cinema ou algumas outras atividades para estar gastando com o boliche. Então hoje a renovação principal são os filhos de atletas, e não é bem o que nós pretendemos. Nós temos um trabalho, tanto nosso quanto o de algumas Federações em vários estados, onde temos tentado levar o boliche para as escolas, fazer um esporte escolar que eu acho que é uma grande saída. Temos um volume muito grande de pessoas que fazem o boliche como lazer, mas, não passam para um alto rendimento, que seria se federarem e disputar alguns campeonatos. O maior desafio é conseguir levar à frente essa necessidade de participar bem de um Pan-americano, porque é uma vitrine, já está sendo uma vitrine, e a nossa participação positiva contribuirá para o esporte. Não digo que só uma medalha importa, pois seria um grande sonho, mas, principalmente organizá-lo bem, mostrar ao Comitê Olímpico e aos meios que nos dirigem que a Confederação, seus atletas e Federações praticam seriamente o esporte, para não continuar sendo “encarado” como lazer. Vou dar um exemplo: quando na fundação em 1981, nós tivemos que comparecer, na época não era nem uma Confederação, era um departamento dentro de outras Confederações, o regime militar já tinha acabado, mas ainda tinham muitos generais cuidando dessas áreas, e ali eles só viam o boliche como um lugar de bebida e fumo. Comprovar para eles que poderia haver um campeonato brasileiro da modalidade, isso foi muito do trabalho que eu tive a honra de participar a vinte e cinco anos atrás (risos). Isso é quase que uma vida. Quantos atletas nem souberam do que estava acontecendo! A memória do brasileiro é um pouco curta infelizmente. Nossos ídolos nem sempre são cultuados como deveriam ser, e por outro lado, a condição de fazer do boliche realmente esporte e lazer é muito importante, porque é muito difícil que se converse com alguém que nunca tenha jogado uma partida de boliche. Mas, daí a praticá-lo seriamente, pensando em um bom rendimento, existe um distanciamento. E isso é um desafio que eu acho que ainda nessa gestão a gente pretende conseguir chegar um pouco mais perto.

LP – Como as Federações poderiam contribuir para a captação de atletas?

CM – Infelizmente, da mesma forma da estrutura da Confederação, as estruturas das Federações não são mais profissionalizadas. Nós precisaríamos de recursos, uma estrutura onde as casas comerciais (não estou dizendo que não apóiem), mas que vissem a Federação 100% como um parceiro para aglutinar novos praticantes, e dessa forma que tivéssemos pessoas que pudessem estar realmente em um trabalho profissional de agregar mais atletas. Porque a grande maioria de dirigentes de Federações são todos abnegados, não há infelizmente um departamento profissional dentro de uma Federação. Talvez uma parceria entre os boliches e cada Federação, a gente conseguisse fazer com que mais praticantes, estando envolvidos com o esporte, pudessem gerar bons lucros para as casas comerciais e resultados positivos para cada Federação.

LP – Com relação ao Pan-americano, a organização está satisfatória?

CM – Nós passamos um período atrasado. A própria discussão se os esportes não olímpicos estariam garantidos no programa, foi uma coisa que atrasou a quem quer que estivesse dirigindo a Confederação, em quase dois anos. Em meu último ano de mandato, o que mais trabalhamos foi em estar sensibilizando órgãos, tanto nacionais como internacionais, que o boliche não tinha como ficar de fora. Por não sermos olímpicos ainda, o que acontece é que em todo ano, com o crescimento do número de atletas nas vilas olímpicas, sempre querem reduzir o número de esportes. No caso do Pan-americano, a primeira coisa é cortar os não olímpicos. Até porque no Brasil, a lei Agnelo Piva só é repassada às Confederações Olímpicas. O Comitê Olímpico tem um custo conosco quando estamos no Pan-americano. Mas de lá para cá, principalmente depois de nossa entrada, tivemos uma reunião bem imediata com o Presidente da Confederação Pan-americana, o que aconteceu no Panamá no início de março, quando tentamos inclusive já definir todo o calendário. Ali tiramos, pode-se dizer a “espinha dorsal” do evento. Definimos o formato, inclusive uma notícia importante que quase ninguém divulgou ainda, é que a partir desse próximo Pan-americano, nós vamos ter um formato mais televisivo, inclusive para o Brasil bastante interessante. Na fase individual, a partir do oitavo jogo, nós vamos ter o somatório desses pontos e os 16 primeiros colocados jogarão em confronto direto até o final. Por exemplo: o 16º joga contra o 1º, então o 16º pode se classificar em duas linhas e ser o primeiro colocado no geral. E será uma maneira, vamos dizer, no futebol que todo mundo conhece como “mata mata”, de forma que serão eliminatórias simples a partir desse momento. Para se passar na televisão é muito mais fácil, porque uma coisa que se reclama muito na mídia é que se chega ao boliche e não se sabe se o possível campeão está jogando na pista 1 ou na 25, a partida decisiva. É mais difícil o acompanhamento. Então conseguimos, não só por um trabalho nosso, mas por ser uma tendência mundial, que já nesse evento ele seja efetivado dessa forma. E para o Brasil enquanto resultado de seleção, muito sinceramente, enfrentar, por exemplo, norte-americanos em 24 linhas é muito mais difícil vencê-los. Agora, se qualificamos entre os 16, vencê-los em 2 partidas é muito mais fácil. Acredito que será importante também para nossa condição de resultado como medalha. Precisamos fazer também um grande trabalho psicológico em cima das pessoas que vão representar nosso país, porque naquele momento, em pouco mais de 40 minutos, estará se decidindo, passar ou não para uma próxima fase. Mas as nossas chances aumentam.

LP – Você acha justo o “mata mata”?

CM – Todo esporte tem se adaptado principalmente ao que mais importa: a mídia televisiva. Vamos comparar com o vôlei. Durante muitos anos tinha a “vantagem”. Foi cortada a “vantagem” por quê? Porque uma partida não tinha um tempo possível de se mensurar. A gente tem que se adequar principalmente aos regulamentos de modalidades que foram mais bem sucedidas porque, se você convida uma televisão para fazer uma final de boliche, você não tem uma noção específica, como eu disse até uma condição nos formatos anteriores de se filmar aquele momento da final, exceto um desafio final. Dessa forma, nós vamos poder ter muito mais tempo de televisão. Nos últimos jogos da Odesur que aconteceram em São Paulo, nós podemos provar que tivemos mais de oito horas de transmissão. Com um elevado índice, apesar de ter sido só em canal fechado, não foi em televisão “aberta”. Mas, esses índices de audiência mostraram que o brasileiro gosta, assiste ESPN internacional, por exemplo, e está sempre vendo o boliche. E quem sabe se através dessa vitrine que é o Pan-americano, possamos ter mais divulgação a partir de 2007. Com isso, divulgação, patrocínio, novos atletas e um círculo vicioso de benefícios para o esporte.

LP – Onde serão realizados os jogos de boliche no Pan-americano?

CM – Nós passamos a tarde de ontem em reuniões com o comitê organizador dos jogos e com a missão brasileira. Para o pessoal que não conhece muito bem, são duas etapas diferentes, o COB tem a sua missão de cuidar exclusivamente da delegação brasileira que participa dos jogos e o CoRio (comitê organizador), é uma entidade privada, formada à parte para organizar o evento. São duas coisas distintas. Nós temos uma discussão com eles que o plano B é o Norte Shopping. No momento está tudo sendo preparado para continuar acontecendo no Barra Bowling. Já há conhecimento deles. Nesse evento mesmo (Campeonato Brasileiro Individual) já tivemos observadores, e teremos no domingo (06/08) uma reunião final com o arquiteto, onde vamos mostrar as vantagens de se passar para o Norte Shopping. Mas, temos que ser realistas e dizer que no momento o Norte Shopping ainda é um plano B, porque o COB quer fazer dessa edição dos jogos, a melhor edição de todos os jogos Pan-americanos já existentes. Então não há muito, na visão de quem dirige o comitê olímpico, condição de se dar mais do que o início de dezembro, que é quando estará pronto o Norte Shopping. Por essa condição, eu gostaria de falar bem claro, a Confederação trabalha junto ao comitê organizador como tendo o Norte Shopping como plano B. Será ideal porque é uma casa totalmente nova, com muito mais espaço para os atletas e delegações, principalmente para o público, mas no momento continuamos trabalhando firmemente na opção A que ainda é o Barra Bowling.

LP – Você concorda com a forma de eliminatórias e o ranking para o PAN?

CM – Eu acho que é justo porque já foi testado durante muitos anos. O que discordo inclusive como Presidente, mas já assumi com os compromissos das federações que seria assim, eu o acho muito extenso. Dez etapas para se selecionar um atleta, por mais que se diga que é necessário um trabalho específico, uma dedicação, mas não temos nenhum profissional no esporte. A única discussão que a Confederação vê é que a pessoa além de financeiramente, ela tem que abster até do trabalho para conseguir fazer as 10 etapas em um período de 10 meses como está acontecendo. Esse já era um compromisso das federações, a única coisa que conseguimos depois da nossa entrada, foi aumentar mais uma etapa de descarte. Ele tinha sido aprovado em dezembro do ano passado, antes da minha eleição, para que nós tivéssemos 10 etapas sem descartes. O atleta que jogasse os 10, contaria os 10. Era necessário no mínimo 8 eventos. Nós conseguimos fazer uma pequena alteração, e baixou-se para 7 eventos obrigatório e descartando para quem jogasse. Então se vai comparar 7 com 7 e não mais de quem tivesse 10, uma condição melhor. A regra foi conhecida de todos em janeiro, e quem está jogando, está jogando concordando em como está sendo disputado. É um custo um pouco elevado para 10 etapas, porque além dos 10 eventos classificatórios, nossos atletas estão participando durante esse ano de eventos mundiais, de clínicas, que a gente está trazendo um técnico americano para nos apoiar em relação a isso. O intercâmbio é muito necessário. Estamos no ano dos jogos olímpicos da América do Sul, que será em novembro. Então a pessoa vai jogar, vamos supor em média 15 eventos, por exemplo, que será esse ano, o que eu entendo é que para uma pessoa não profissional do esporte seja humanamente impossível de conciliar esporte, trabalho, estudo.

Mas a regra já estava ditada por uma assembléia de federações então nos resta cumpri-la.

LP – Como será feita a escolha dos dois atletas a representar o Brasil no PAN?

CM – A Confederação conseguiu fazer um convênio com a Federação Americana, que sem sombras de dúvidas é o país mais desenvolvido seja a nível profissional ou amador, e nós teremos Fred Border que é a maior expressão do esporte. No momento está 90% acertado sua vinda ao Brasil. Ele já esteve aqui em maio fazendo uma clínica para os primeiros do ranking e já temos o projeto nas mãos do Comitê Olímpico para que possa nos apoiar, pois seus custos não são baixos. Nós estaremos selecionando ao final dessas 10 etapas os 4 primeiros do ranking masculino e feminino, sem nenhuma vaga técnica, apenas os 4 primeiros do ranking. Com o descarte que eu já mencionei. E a partir daí eles estarão em uma seleção permanente, com o objetivo de que o técnico, preferencialmente internacional e que seja Fred Border, estará designando dentro de um acompanhamento durante seis meses desses atletas, quem serão os dois representantes. Masculino e feminino.

LP – Como ele acompanhará o desenvolvimento dos atletas?

CM – Na última clínica chegamos a um acordo que, indiferente dos recursos que possamos ter em janeiro de 2007, não há como se esperar seis meses mais para acompanhar essa evolução. Dentro de nosso planejamento, a sua equipe, não obrigatoriamente ele (Fred), estará vindo ao Brasil de duas a três vezes até dezembro. Nessas vindas, existirá um acompanhamento não só nos treinamentos, mas também em eventos. Foi uma condição especificada por ele, para que possa sentir o atleta também sob pressão. Mais do que isso, ele tem nos acompanhado em eventos. Por exemplo, os juvenis que estiveram no interamericano e no mundial, já tiveram o acompanhamento dele. Nós temos não só esperança, mas certeza, que dentro desses 4 teremos uma renovação aproximada de 1/3 com atletas de uma nova geração, alguns deles juvenis. A sua dúvida de como acompanhar atletas que residem tão longe um do outro, digo que, dentro do planejamento da Confederação, durante algumas semanas no ano de 2007, a pessoa terá que infelizmente abandonar sua vida, até em trabalho, para assim estar se dedicando às viagens. Principalmente se fizermos um rodízio entre os estados, se concentrarmos às vezes, alguns que não sejam o treinamento final, no estado que tenha mais atletas selecionados. Obviamente que treinar no boliche onde irão acontecer os jogos é o mais importante. Temos que ter uma forma de já estar estudada e planejada junto a esse grupo, para que os atletas tenham condições não só financeira, porque nem sempre é só isso que resolve, mas também tempo, para não ficar vamos dizer, seis meses só por conta de boliche. Mas, seguramente um atleta classificado deverá dedicar dos seis meses do ano que vem pelo menos a metade dos meses à prática do boliche, se não, não terá condição de ser nosso representante.

LP – Você acredita que temos uma chance real de medalha?

CM – Com certeza. Como lhe disse, a nova fórmula de disputa nos favorece muito. Em 24 partidas direto como o sistema antigo, eram 12 linhas para decidir a medalha de duplas mais 12 para decidir a individual. Nas duplas continua como era antes e as nossas chances são um pouco mais reduzidas, mas no individual, como falei, com essa renovação, que a partir dos 16 já é um sistema eliminatório simples, as nossas chances aumentaram bastante. E alguns resultados, por exemplo, medalha de prata no último interamericano nos credencia a estar realmente otimistas e confiantes de que com um trabalho positivo poderemos estar enfrentando a todos de igual para igual. Estaremos em casa, saberemos com mais antecedência toda a condição, não que os outros países não irão saber, mas, em boliche é mais do que sabido que não basta dizer o gráfico do óleo. O gráfico do óleo adaptado à pista específica que irá se jogar, a intensidade de treinamento, a umidade relativa do ar, toda a estrutura do local, faz com que isso seja alguns atributos positivos. Espero daqui a 1 ano, estamos a menos de 1 ano do PAN, estar podendo dizer para você com prazer, que tivemos o trabalho recompensado na organização e com  medalhas. Esse será o grande objetivo e estaremos coroando um trabalho que é sério, às vezes um pouco mal entendido porque as pessoas tem dúvidas, se devemos parar a história do boliche por conta de 4 atletas. Não é isso. A Confederação pretende inclusive nesse trabalho junto ao comitê americano, que no mínimo de 24 meses será esse trabalho, porque não se prende a um Pan-americano a história do boliche. No próximo ano temos o mundial feminino. Agora estamos abrindo mão de participar do mundial masculino por questões de custos, mas, temos muitos outros eventos e tudo isso forma novos atletas. Marcelo Suartz é o atual campeão sul-americano juvenil e Décio Abreu no sênior, então é um grande exemplo. Marcio Vieira em 2002 no Odesur foi o campeão. Nós temos ídolos, temos atletas de qualidade e eles serão um exemplo na formação de novos atletas.

LP – Quais os planos da Confederação para ajudar na evolução do atleta sem ser específico para o Pan-americano?

CM – Como eu disse, em nosso primeiro mandato, o conhecimento e a expansão desse conhecimento foi nossa meta principal. Porque sem ser assim, não chegaremos a expandir a base da pirâmide. Exemplo direto: na próxima clínica que estará sendo feito para os atletas “de ponta”, nós vamos separar dois a três dias para que a um custo bem subsidiado, se possível abaixo de custo, nós possamos ter qualquer atleta, não importa sua posição no ranking, participando de uma clínica com aquele que renomadamente é o maior do mundo. Dessa forma esperamos criar novos campeões e estar contribuindo para um crescimento geral do boliche, não só nos maiores centros como Rio e São Paulo, mas de todo o Brasil.

LP – Fumo e bebida. Falta consciência?

CM – Grande parte dos atletas são ex-praticantes de boliche como lazer. E por ser como lazer, não foi embutido essa cultura. Fumo não se admite em nenhuma modalidade esportiva. Nos últimos jogos sul-americanos realizados no Brasil em 2002, era proibido na cidade de São Paulo, se um atleta fosse encontrado, não precisava nem estar uniformizado, mas com um cigarro na boca, qualquer pessoa poderia desqualificá-lo da competição. Em competições internacionais os brasileiros têm esse cuidado. Então é uma questão não só cultural, mas de respeito a uma norma básica. Contamos com um grupo de pessoas que começaram a jogar talvez com mais de vinte, vinte e cinco anos, e já vinham com esse determinado vício. Estamos erradicando. Nessas 4 ou 5 horas de um torneio as pessoas precisam se acostumar. Dentro de um shopping então, é inconcebível, é lei. Tem uma placa dizendo que é “proibido fumar conforme a Lei ...” e tal. É uma regra básica que a gente não consegue entender que algum atleta ainda possa pensar em não cumpri-la. Sei que é uma minoria, mas essa minoria ainda atrapalha.

LP – Como é ser casado com uma atleta de boliche?

CM – Mais difícil para ela do que para mim. Eu tenho muito orgulho de ser casado com uma tricampeã brasileira individual, depois da Jacque, sua irmã, ela tem o maior número de títulos individuais do Brasil. Mas isso pesa mais para ela do que para mim infelizmente. As pessoas nem sempre conhecem a história e não possuem memória no boliche. Além de tricampeã brasileira, muitas vezes seleção brasileira, e num esporte que não é como ginástica olímpica que se tem uma nota subjetiva. Existe um regulamento para ser cumprido e uma regra: os pinos estão lá para serem derrubados. Algumas pessoas às vezes tentam atingir o presidente mirando-se nesse caso. Só que eu tenho toda a tranqüilidade em dizer que os pinos são fixos e nosso esporte é derrubar esses pinos. Não há uma regra que se possa beneficiar A ou B na somatória desses pontos. Por isso que digo que é mais difícil para ela ser esposa do presidente. Muitas vezes querem atingir o presidente atacando sua esposa. Felizmente os resultados nas pistas comprovam, principalmente em um passado recente que não há essa necessidade. Depois da minha entrada na presidência, ela só foi seleção brasileira uma vez, antes já tinha sido várias vezes, jogando o Pan-americano, 2 Mundiais , etc. Acredito que eu mais a prejudico sendo presidente do que possa trazer benefícios. Esse esporte é muito de “mental game”, é preciso que esteja psicologicamente bastante preparado, não que ela não esteja, mas, em alguns momentos as críticas que vêem a mim ou à nossa diretoria, respingam e atrapalham o seu desempenho enquanto atleta. No ano passado ela passou por uma cirurgia, ficou longe das pistas e está voltando agora, mas, com muita responsabilidade, com tranqüilidade. Seus títulos, seus resultados, sua postura em pista, mostram um bem mais do que alguns possam desmerecer e não há o que o presidente queira favorecer, as regras são para todos, o Boliche é medido eletronicamente não por notas subjetivas.

LP – Se conheceram no boliche?

CM – Sim.  A um bom tempo. Só não vou dizer o ano para não deixá-la mais velha (risos). Eu já era presidente da Federação Mineira. A primeira bola eu trouxe de uma viagem internacional e dali para frente... Os filhos (Isabela 14 anos e César Augusto com 11) também gostam. Sinceramente não tenho feito muita força para que gostem. Obviamente que eles pretendem seguir a mãe que possui mais títulos. Faço um agradecimento, pois não teria condições de ser um dirigente se a família não me apoiasse. Hoje meus filhos estão mais firmes no hipismo, pois em minha cidade não tem boliche. Mas, gostam, participam sempre e incentivam a mãe a continuar.

LP – Você reside aonde hoje?

CM – Em Sete Lagoas, 70 km de Belo Horizonte. Uma opção por qualidade de vida. Com isso estamos um pouco mais longe do boliche. Uma cidade com 210 mil habitantes caberia bastante um boliche lá. Se algum empresário se interessar... a gente observa boliches em cidades até menores.

LP – Hobby

CM – Sempre fui muito fã do automobilismo. Durante muito tempo algumas pequenas participações em quilômetros de arrancada, rali, esse seria o principal hobby. E hoje apóio muito as crianças no hipismo.

LP – Seu melhor momento no esporte.

CM – Pessoalmente, ser campeão brasileiro de clubes em 1993 e dessa forma conquistei uma vaga pelo bom momento e como seleção brasileira, o que poucas pessoas conhecem é que disputei um torneio das Américas, por exemplo, e consegui uma média melhor que Marcio Vieira naquele momento. Isso não é muito lembrado no currículo geral dessa pessoa que ficou muito mais conhecido como dirigente, mas, o meu melhor momento foi ver atletas como o Mario Alvarenga em 2001 conquistando uma medalha de ouro juvenil no Torneio Mundial da Amizade em Orlando. Momentos que tivemos medalhas internacionais nos Jogos Odesur aqui e fora do Brasil,  e sobretudo quando conversando com técnicos internacionais, eles dizendo que o Brasil está no caminho certo. Isso nos motiva a continuar.

LP – Pior momento.

CM – Seria, todo mundo tem crítica a qualquer decisão tomada. Mas infelizmente dentro da nossa comunidade, em alguns momentos as pessoas não sabem separar a figura do presidente da entidade como um todo. Eu entendo que esse é o pior momento, quando eu vejo algumas críticas não tão fundadas. As pessoas por falta de informação, muitas das vezes não conhecem 100% o que é o regulamento, ou se foi aprovado pela própria Federação que eles fazem parte, e me atribuem. Isso é uma tristeza quando você quer fazer um trabalho positivo, procurando crescer o esporte e alguns ao invés de construir fazem críticas destrutivas. Elas devem haver e sempre, mas quando a pessoa sem algum conhecimento tece críticas principalmente em locais públicos, como um site de internet, é um dos momentos de maior tristeza.

LP – Você acompanha sempre o mural do site boliche.com.br?

CM – Eu acho que o site do Bira é a maior audiência que temos no boliche. Inclusive já o premiei como um destaque da década. A Confederação completou 10 anos dentro da minha administração e eu procurei premiá-lo como um fator positivo para o esporte, e realmente é. Só que eu digo que as pessoas não têm consciência que algumas discussões deveríamos tirar do “mural” e passar, por exemplo, para o “fórum”, aonde a gente tem condição de discutir sem exposições indevidas do esporte. Estamos reformulando nosso site com alguma dificuldade e lá vamos ter um “chat” tanto para federado, quanto para dirigentes de federação, e dessa forma fazer com que as discussões do boliche sejam mais construtivas. Ali era um local mais para recados. As pessoas não entendem que esse recado está sendo visto pelo mundo e por outras entidades.

LP – Que conselho daria para quem está começando agora?

CM – Que procure se espelhar naqueles que realmente tem construído o esporte com seriedade, que procure ser técnico, que saiba a diferença entre uma bola reta, uma bola com muito giro. Porque em alguns momentos deixam de ganhar um campeonato porque perderam muitos pinos isolados no caminho e, sobretudo que procure o conhecimento, pois essa é a maior condição para se praticar qualquer esporte.

LP – Fale sobre a Normabol.

CM – (Muito sério) Isso é mais um desconhecimento da comunidade. A Normabol, ou seja, o “regimento normativo do ano”, ele tem por objetivo ditar regras para o que vai ser feito durante aquele ano. Na realidade, o estatuto da Confederação até 2003 designava como prerrogativa do presidente estabelecer as normas que serão regidas no esporte no decorrer daquele ano. Isso caiu em janeiro de 2004 com o novo Código Civil Brasileiro. O que se discute muito se deve ser atualizado, é porque as pessoas não tinham o conhecimento que criar uma nova Normabol, é um regimento de que um presidente anterior utilizou. Eu assumi a Confederação em 2001 com uma Normabol feita por Marco Aurélio. A Normabol dele era para o ano de 2000. Durante o ano de 2001, com o conhecimento dos presidentes das federações, fazendo inclusive assembléias, instituímos várias notas oficiais que normatizava o boliche para o ano de 2001 e depois para 2002. O pouco conhecimento ou a prática que foi feita, é que na cabeça de todo mundo a Normabol tem que ser uma “montanha” de leis. No meu conhecimento, muito mais importante do que fazermos 10.000 leis, como o Brasil que tem muito mais do que isso, é termos normas mais enxutas que possam ser cumpridas. Se em uma assembléia, como a que foi feita no momento de minha eleição, definimos qual seria o procedimento para o ano de 2006, e vamos cumpri-lo, como temos cumprido “na risca”, é muito mais importante que em um único documento esteja contido a ata da assembléia assinada por cada um dos presentes, definir o critério de convocação, critério de ranking e pronto. Essa para mim é a Normabol 2006. Não precisamos ficar com essas discussões. Nós temos uma regra internacional que diz se deve usar bermuda ou calça comprida! Temos uma norma internacional que diz que se passar da linha de falta, leva-se zero naquele frame. A Normabol não tem que ficar repetindo. Divulga-se a norma da FIQ, que é a nossa entidade internacional, e as pessoas têm o conhecimento das regras geral do boliche. O normativo do ano de 2006 ou de 2007 é uma coisa que deve ser colocado antes de rolar a primeira bola e que se cumpra aquilo! Era uma prática da gestão anterior, Marco Aurélio, inclusive meu secretário geral, pessoa de grande conhecimento, trabalhar com a Normabol. Eu particularmente acho que um regulamento mais simples, que se institua em janeiro o que vai acontecer de janeiro a dezembro, e desde que se cumpra, é o que precisamos! E não fazer inúmeras leis que normalmente não são cumpridas e servem mais para discórdia.

LP – Do que você precisa para ser feliz?

CM – Saúde e paz.

LP – Qual o defeito que detesta em você?

CM – Às vezes falar muito.

LP – O que mais despreza em uma pessoa?

CM – Falsidade.

LP – Do que você se arrepende?

CM – De não ter dado algumas respostas mais diretas a alguns que mereciam.

LP – Uma música inesquecível.

CM – “Tocando em frente”, que é meu lema, gostaria de estar andando devagar porque já tive muita pressa.

LP – Um filme.

CM – Não tenho tido tempo de ir ao cinema, mas, pode ser “O dia seguinte”.

LP – Um livro.

CM – “Semente da vitória” de Nuno Cobra. Estou tentando ler para respirar um pouquinho mais antes de tomar algumas decisões.

LP – Herói preferido na ficção.

CM – Batman.

LP – Quem levaria para uma ilha deserta?

CM – Sandra, minha esposa.

LP – Quem deixaria lá para sempre?

CM – Alguém que não goste de paz.

LP – Qual seu maior medo?

CM – De não estar amanhã com a minha família.

LP – Refeição preferida.

CM – Filé a Parmeggianna (risos).

LP – Uma mulher bonita.

CM – Você (risos).

LP – Um homem bonito.

CM – Estava aqui perto, o Edson Celulari.

LP – Uma recordação da infância.

CM – Quando meu pai me deu um castigo de 15 dias por ter chegado 15 min. atrasado em casa. (Sorrindo).

LP – Perfume.

CM – Brut.

LP – Cantor preferido.

CM – Gonzaguinha.

LP – Cantora?

CM – Elis Regina.

LP – Ator preferido.

CM – Lima Duarte.

LP – Atriz?

CM – Fernanda Montenegro.

Entrevista concedida em 05/08/06

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