Olá!!!!!
Simpático,
educado, prestativo e gentil. São elogios que cabem perfeitamente ao
entrevistado da vez. Esse mineiro de 47 anos, nascido em Belo Horizonte, é casado, tem dois filhos e tem como profissão: Administrador. Durante
o Campeonato Brasileiro Individual realizado no Rio de Janeiro, apesar dos
inúmeros compromissos e reuniões, CESAR
MACIEL, nosso Presidente da Confederação Brasileira de Boliche, com
muita boa vontade e atenção conseguiu um “tempinho”, no meio de
tanto barulho e confusão, para esse bate papo. Obrigado César!
Lu
Pitangueira
– Como o boliche apareceu em sua vida?
César
Maciel – Nem todos
conhecem, mas, no boliche nós temos duas modalidades: 9 e 10 pinos. Eu
sou sócio do Clube Cruzeiro em Belo Horizonte
e pela sua origem italiana tem o boliche de 9 pinos. Desde muitos anos,
mais de 30 (risos), eu já praticava o boliche de 9 pinos, que tem a tradução
no Brasil de “bolão”. Em 1981 fui fundador da Federação Mineira de
Boliche e de lá para cá, fizemos parte da fundação da Confederação
Brasileira, da Diretoria de boliche, e o primeiro campeonato brasileiro em
1981, só aconteceu porque Minas Gerais foi o terceiro estado a
participar. Na época só existiam torneios no Rio de Janeiro e São
Paulo. Então, com a fundação da Federação Mineira (ao qual eu tive o
prazer de ser um dos fundadores), nós conseguimos que o boliche começasse
a ter Campeonatos Brasileiros. Foram três estados e Brasília naquele ano
participou como convidada. A Confederação Brasileira foi fundada em
1992. Tivemos dois presidentes antes de mim. Na realidade, três, porque
no ano passado tivemos a infelicidade do presidente precisar renunciar,
mas no mandato completo tivemos até hoje apenas dois presidentes. Estou
em meu segundo mandato, (não reeleito porque não fui candidato à reeleição),
mas, por uma questão de renúncia, primeiro do Caco e depois do Clair,
foi feito um consenso e principalmente visando os jogos Pan-americano, eu
aceitei essa missão importante que era voltar. Mas, sinceramente não
eram meus planos porque acredito que a renovação, quanto maior, mais
importante.
LP
– E você parou de jogar?
CM
– As atribuições de presidente da confederação são pouco compatíveis,
ao meu modo de ver, com a vontade de praticar em alto rendimento.
Participo quase que de dois em dois anos de alguns novos torneios, porque
acho que inclusive é bom estar na prática para ter uma condição de ver
o que os atletas estão sentindo nas pistas. Mas, nesse período nunca
deixei de comparecer às clínicas, fiz cursos de técnico, de árbitro
internacional e acho que isso tudo faz com que a gente esteja
participando. Não consigo entender, principalmente em um esporte tão
novo, que o presidente seja aquele já aposentado, porque muitas das
aspirações do atleta, se a gente está totalmente fora não é só com a
diretoria que a gente vai saber, acho que o presidente tem que estar no
dia a dia. Eu participo muito mais de taças, quem sabe em Minas ou algum
campeonato brasileiro. Mas, como atleta competitivo, como já tive o
prazer de ser campeão brasileiro, não individual, e sim campeão
brasileiro de clubes, já fui seleção brasileira em 1993 e também
participei de várias seleções mineiras, não tenho mais essa pretensão.
LP
–
Como está a Confederação hoje?
CM
– Em um trabalho sério de renovação e preparação para o
Pan-americano que é o principal objetivo no momento. Essa renovação, eu
gostaria de colocar, que ao assumir em 2001, meu primeiro projeto foi
estender o conhecimento para um número maior de estados do Brasil, e
mesmo dentro dos estados, para um número maior de pessoas. Uma coisa que
pecamos bastante é com uma falta de renovação. Porque eu não entendo
como renovação, atletas que já começam a jogar com mais de vinte,
vinte e cinco anos. Por ser um esporte não tão caro, mas que possui um
custo para sua prática, nem sempre você consegue jovens que deixem o
cinema ou algumas outras atividades para estar gastando com o boliche. Então
hoje a renovação principal são os filhos de atletas, e não é bem o
que nós pretendemos. Nós temos um trabalho, tanto nosso quanto o de
algumas Federações em vários estados, onde temos tentado levar o
boliche para as escolas, fazer um esporte escolar que eu acho que é uma
grande saída. Temos um volume muito grande de pessoas que fazem o boliche
como lazer, mas, não passam para um alto rendimento, que seria se
federarem e disputar alguns campeonatos. O maior desafio é conseguir
levar à frente essa necessidade de participar bem de um Pan-americano,
porque é uma vitrine, já está sendo uma vitrine, e a nossa participação
positiva contribuirá para o esporte. Não digo que só uma medalha
importa, pois seria um grande sonho, mas, principalmente organizá-lo bem,
mostrar ao Comitê Olímpico e aos meios que nos dirigem que a Confederação,
seus atletas e Federações praticam seriamente o esporte, para não
continuar sendo “encarado” como lazer. Vou dar um exemplo: quando na
fundação em 1981, nós tivemos que comparecer, na época não era nem
uma Confederação, era um departamento dentro de outras Confederações,
o regime militar já tinha acabado, mas ainda tinham muitos generais
cuidando dessas áreas, e ali eles só viam o boliche como um lugar de
bebida e fumo. Comprovar para eles que poderia haver um campeonato
brasileiro da modalidade, isso foi muito do trabalho que eu tive a honra
de participar a vinte e cinco anos atrás (risos). Isso é quase que uma
vida. Quantos atletas nem souberam do que estava acontecendo! A memória
do brasileiro é um pouco curta infelizmente. Nossos ídolos nem sempre são
cultuados como deveriam ser, e por outro lado, a condição de fazer do
boliche realmente esporte e lazer é muito importante, porque é muito difícil
que se converse com alguém que nunca tenha jogado uma partida de boliche.
Mas, daí a praticá-lo seriamente, pensando em um bom rendimento, existe
um distanciamento. E isso é um desafio que eu acho que ainda nessa gestão
a gente pretende conseguir chegar um pouco mais perto.
LP
– Como as Federações poderiam contribuir para a captação de atletas?
CM
– Infelizmente, da
mesma forma da estrutura da Confederação, as estruturas das Federações
não são mais profissionalizadas. Nós precisaríamos de recursos, uma
estrutura onde as casas comerciais (não estou dizendo que não apóiem),
mas que vissem a Federação 100% como um parceiro para aglutinar novos
praticantes, e dessa forma que tivéssemos pessoas que pudessem estar
realmente em um trabalho profissional de agregar mais atletas. Porque a
grande maioria de dirigentes de Federações são todos abnegados, não há
infelizmente um departamento profissional dentro de uma Federação.
Talvez uma parceria entre os boliches e cada Federação, a gente
conseguisse fazer com que mais praticantes, estando envolvidos com o
esporte, pudessem gerar bons lucros para as casas comerciais e resultados
positivos para cada Federação.
LP
– Com relação ao Pan-americano, a organização está satisfatória?
CM
– Nós passamos um período atrasado. A própria discussão se os
esportes não olímpicos estariam garantidos no programa, foi uma coisa
que atrasou a quem quer que estivesse dirigindo a Confederação, em quase
dois anos. Em meu último ano de mandato, o que mais trabalhamos foi em
estar sensibilizando órgãos, tanto nacionais como internacionais, que o
boliche não tinha como ficar de fora. Por não sermos olímpicos ainda, o
que acontece é que em todo ano, com o crescimento do número de atletas
nas vilas olímpicas, sempre querem reduzir o número de esportes. No caso
do Pan-americano, a primeira coisa é cortar os não olímpicos. Até
porque no Brasil, a lei Agnelo Piva só é repassada às Confederações
Olímpicas. O Comitê Olímpico tem um custo conosco quando estamos no
Pan-americano. Mas de lá para cá, principalmente depois de nossa
entrada, tivemos uma reunião bem imediata com o Presidente da Confederação
Pan-americana, o que aconteceu no Panamá no início de março, quando
tentamos inclusive já definir todo o calendário. Ali tiramos, pode-se
dizer a “espinha dorsal” do evento. Definimos o formato, inclusive uma
notícia importante que quase ninguém divulgou ainda, é que a partir
desse próximo Pan-americano, nós vamos ter um formato mais televisivo,
inclusive para o Brasil bastante interessante. Na fase individual, a
partir do oitavo jogo, nós vamos ter o somatório desses pontos e os 16
primeiros colocados jogarão em confronto direto até o final. Por
exemplo: o 16º joga contra o 1º, então o 16º pode se classificar em
duas linhas e ser o primeiro colocado no geral. E será uma maneira, vamos
dizer, no futebol que todo mundo conhece como “mata mata”, de forma
que serão eliminatórias simples a partir desse momento. Para se passar
na televisão é muito mais fácil, porque uma coisa que se reclama muito
na mídia é que se chega ao boliche e não se sabe se o possível campeão
está jogando na pista 1 ou na 25, a
partida decisiva. É mais difícil o acompanhamento. Então conseguimos, não
só por um trabalho nosso, mas por ser uma tendência mundial, que já
nesse evento ele seja efetivado dessa forma. E para o Brasil enquanto
resultado de seleção, muito sinceramente, enfrentar, por exemplo,
norte-americanos em 24 linhas é muito mais difícil vencê-los. Agora, se
qualificamos entre os 16, vencê-los em 2 partidas é muito mais fácil.
Acredito que será importante também para nossa condição de resultado
como medalha. Precisamos fazer também um grande trabalho psicológico em
cima das pessoas que vão representar nosso país, porque naquele momento,
em pouco mais de 40 minutos, estará se decidindo, passar ou não para uma
próxima fase. Mas as nossas chances aumentam.
LP
– Você acha justo o “mata mata”?
CM
– Todo esporte tem se adaptado principalmente ao que mais importa: a mídia
televisiva. Vamos comparar com o vôlei. Durante muitos anos tinha a
“vantagem”. Foi cortada a “vantagem” por quê? Porque uma partida
não tinha um tempo possível de se mensurar. A gente tem que se adequar
principalmente aos regulamentos de modalidades que foram mais bem
sucedidas porque, se você convida uma televisão para fazer uma final de
boliche, você não tem uma noção específica, como eu disse até uma
condição nos formatos anteriores de se filmar aquele momento da final,
exceto um desafio final. Dessa forma, nós vamos poder ter muito mais
tempo de televisão. Nos últimos jogos da Odesur que aconteceram em São Paulo, nós podemos provar que tivemos mais de oito horas de transmissão. Com
um elevado índice, apesar de ter sido só em canal fechado, não foi em
televisão “aberta”. Mas, esses índices de audiência mostraram que o
brasileiro gosta, assiste ESPN internacional, por exemplo, e está sempre
vendo o boliche. E quem sabe se através dessa vitrine que é o
Pan-americano, possamos ter mais divulgação a partir de 2007. Com isso,
divulgação, patrocínio, novos atletas e um círculo vicioso de benefícios
para o esporte.
LP
–
Onde serão realizados os jogos de boliche no Pan-americano?
CM
– Nós passamos a tarde de ontem em reuniões com o comitê organizador
dos jogos e com a missão brasileira. Para o pessoal que não conhece
muito bem, são duas etapas diferentes, o COB tem a sua missão de cuidar
exclusivamente da delegação brasileira que participa dos jogos e o CoRio
(comitê organizador), é uma entidade privada, formada à parte para
organizar o evento. São duas coisas distintas. Nós temos uma discussão
com eles que o plano B é o Norte Shopping. No momento está tudo sendo
preparado para continuar acontecendo no Barra Bowling. Já há
conhecimento deles. Nesse evento mesmo (Campeonato Brasileiro Individual)
já tivemos observadores, e teremos no domingo (06/08) uma reunião final
com o arquiteto, onde vamos mostrar as vantagens de se passar para o Norte
Shopping. Mas, temos que ser realistas e dizer que no momento o Norte
Shopping ainda é um plano B, porque o COB quer fazer dessa edição dos
jogos, a melhor edição de todos os jogos Pan-americanos já existentes.
Então não há muito, na visão de quem dirige o comitê olímpico, condição
de se dar mais do que o início de dezembro, que é quando estará pronto
o Norte Shopping. Por essa condição, eu gostaria de falar bem claro, a
Confederação trabalha junto ao comitê organizador como tendo o Norte
Shopping como plano B. Será ideal porque é uma casa totalmente nova, com
muito mais espaço para os atletas e delegações, principalmente para o público,
mas no momento continuamos trabalhando firmemente na opção A que ainda
é o Barra Bowling.
LP
– Você concorda com a forma de eliminatórias e o ranking para o PAN?
CM
– Eu acho que é justo porque já foi testado durante muitos anos. O que
discordo inclusive como Presidente, mas já assumi com os compromissos das
federações que seria assim, eu o acho muito extenso. Dez etapas para se
selecionar um atleta, por mais que se diga que é necessário um trabalho
específico, uma dedicação, mas não temos nenhum profissional no
esporte. A única discussão que a Confederação vê é que a pessoa além
de financeiramente, ela tem que abster até do trabalho para conseguir
fazer as 10 etapas em um período de 10 meses como está acontecendo. Esse
já era um compromisso das federações, a única coisa que conseguimos
depois da nossa entrada, foi aumentar mais uma etapa de descarte. Ele
tinha sido aprovado em dezembro do ano passado, antes da minha eleição,
para que nós tivéssemos 10 etapas sem descartes. O atleta que jogasse os
10, contaria os 10. Era necessário no mínimo 8 eventos. Nós conseguimos
fazer uma pequena alteração, e baixou-se para 7 eventos obrigatório e
descartando para quem jogasse. Então se vai comparar 7 com 7 e não mais
de quem tivesse 10, uma condição melhor. A regra foi conhecida de todos
em janeiro, e quem está jogando, está jogando concordando em como está
sendo disputado. É um custo um pouco elevado para 10 etapas, porque além
dos 10 eventos classificatórios, nossos atletas estão participando
durante esse ano de eventos mundiais, de clínicas, que a gente está
trazendo um técnico americano para nos apoiar em relação a isso. O
intercâmbio é muito necessário. Estamos no ano dos jogos olímpicos da
América do Sul, que será em novembro. Então
a pessoa vai jogar, vamos supor em média 15 eventos, por exemplo, que será
esse ano, o que eu entendo é que para uma pessoa não profissional do
esporte seja humanamente impossível de conciliar esporte, trabalho,
estudo.
Mas
a regra já estava ditada por uma assembléia de federações então nos
resta cumpri-la.
LP
–
Como será feita a escolha dos dois atletas a representar o Brasil no PAN?
CM
– A Confederação conseguiu fazer um convênio com a Federação
Americana, que sem sombras de dúvidas é o país mais desenvolvido seja a
nível profissional ou amador, e nós teremos Fred Border que é a maior
expressão do esporte. No momento está 90% acertado sua vinda ao Brasil.
Ele já esteve aqui em maio fazendo uma clínica para os primeiros do
ranking e já temos o projeto nas mãos do Comitê Olímpico para que
possa nos apoiar, pois seus custos não são baixos. Nós estaremos
selecionando ao final dessas 10 etapas os 4 primeiros do ranking masculino
e feminino, sem nenhuma vaga técnica, apenas os 4 primeiros do ranking.
Com o descarte que eu já mencionei. E a partir daí eles estarão em uma
seleção permanente, com o objetivo de que o técnico, preferencialmente
internacional e que seja Fred Border, estará designando dentro de um
acompanhamento durante seis meses desses atletas, quem serão os dois
representantes. Masculino e feminino.
LP
– Como ele acompanhará o desenvolvimento dos atletas?
CM
– Na última clínica chegamos a um acordo que, indiferente dos recursos
que possamos ter em janeiro de 2007, não há como se esperar seis meses
mais para acompanhar essa evolução. Dentro de nosso planejamento, a sua
equipe, não obrigatoriamente ele (Fred), estará vindo ao Brasil de duas
a três vezes até dezembro. Nessas vindas, existirá um acompanhamento não
só nos treinamentos, mas também em eventos. Foi
uma condição especificada por ele, para que possa sentir o atleta também
sob pressão. Mais do que isso, ele tem nos acompanhado em eventos. Por exemplo, os juvenis que estiveram no interamericano e no mundial, já
tiveram o acompanhamento dele. Nós temos não só esperança, mas
certeza, que dentro desses 4 teremos uma renovação aproximada de 1/3 com
atletas de uma nova geração, alguns deles juvenis. A sua dúvida de como
acompanhar atletas que residem tão longe um do outro, digo que, dentro do
planejamento da Confederação, durante algumas semanas no ano de 2007, a
pessoa terá que infelizmente abandonar sua vida, até em trabalho, para
assim estar se dedicando às viagens. Principalmente se fizermos um rodízio
entre os estados, se concentrarmos às vezes, alguns que não sejam o
treinamento final, no estado que tenha mais atletas selecionados.
Obviamente que treinar no boliche onde irão acontecer os jogos é o mais
importante. Temos que ter uma forma de já estar estudada e planejada
junto a esse grupo, para que os atletas tenham condições não só
financeira, porque nem sempre é só isso que resolve, mas também tempo,
para não ficar vamos dizer, seis meses só por conta de boliche. Mas,
seguramente um atleta classificado deverá dedicar dos seis meses do ano
que vem pelo menos a metade dos meses à prática do boliche, se não, não
terá condição de ser nosso representante.
LP
– Você acredita que temos uma chance real de medalha?
CM
– Com certeza. Como lhe disse, a nova fórmula de disputa nos favorece
muito. Em 24 partidas direto como o sistema antigo, eram 12 linhas para
decidir a medalha de duplas mais 12 para decidir a individual. Nas duplas
continua como era antes e as nossas chances são um pouco mais reduzidas,
mas no individual, como falei, com essa renovação, que a partir dos 16 já
é um sistema eliminatório simples, as nossas chances aumentaram
bastante. E alguns resultados, por exemplo, medalha de prata no último
interamericano nos credencia a estar realmente otimistas e confiantes de
que com um trabalho positivo poderemos estar enfrentando a todos de igual
para igual. Estaremos em casa, saberemos com mais antecedência toda a
condição, não que os outros países não irão saber, mas, em boliche
é mais do que sabido que não basta dizer o gráfico do óleo. O gráfico
do óleo adaptado à pista específica que irá se jogar, a intensidade de
treinamento, a umidade relativa do ar, toda a estrutura do local, faz com
que isso seja alguns atributos positivos. Espero daqui a 1 ano, estamos a
menos de 1 ano do PAN, estar podendo dizer para você com prazer, que
tivemos o trabalho recompensado na organização e com
medalhas. Esse será o grande objetivo e estaremos coroando um
trabalho que é sério, às vezes um pouco mal entendido porque as pessoas
tem dúvidas, se devemos parar a história do boliche por conta de 4
atletas. Não é isso. A Confederação pretende inclusive nesse trabalho
junto ao comitê americano, que no mínimo de 24 meses será esse
trabalho, porque não se prende a um Pan-americano a história do boliche.
No próximo ano temos o mundial feminino. Agora estamos abrindo mão de
participar do mundial masculino por questões de custos, mas, temos muitos
outros eventos e tudo isso forma novos atletas. Marcelo Suartz é o atual
campeão sul-americano juvenil e Décio Abreu no sênior, então é um
grande exemplo. Marcio Vieira em 2002 no Odesur foi o campeão. Nós temos
ídolos, temos atletas de qualidade e eles serão um exemplo na formação
de novos atletas.
LP
– Quais os planos da Confederação para ajudar na evolução do atleta
sem ser específico para o Pan-americano?
CM
– Como eu disse, em nosso primeiro mandato, o conhecimento e a expansão
desse conhecimento foi nossa meta principal. Porque sem ser assim, não
chegaremos a expandir a base da pirâmide. Exemplo direto: na próxima clínica
que estará sendo feito para os atletas “de ponta”, nós vamos separar
dois a três dias para que a um custo bem subsidiado, se possível abaixo
de custo, nós possamos ter qualquer atleta, não importa sua posição no
ranking, participando de uma clínica com aquele que renomadamente é o
maior do mundo. Dessa forma esperamos criar novos campeões e estar
contribuindo para um crescimento geral do boliche, não só nos maiores
centros como Rio e São Paulo, mas de todo o Brasil.
LP
– Fumo e bebida. Falta consciência?
CM
– Grande parte dos atletas são ex-praticantes de boliche como lazer. E
por ser como lazer, não foi embutido essa cultura. Fumo não se admite em
nenhuma modalidade esportiva. Nos últimos jogos sul-americanos realizados
no Brasil em 2002, era proibido na cidade de São Paulo, se um atleta
fosse encontrado, não precisava nem estar uniformizado, mas com um
cigarro na boca, qualquer pessoa poderia desqualificá-lo da competição.
Em competições internacionais os brasileiros têm esse cuidado. Então
é uma questão não só cultural, mas de respeito a uma norma básica.
Contamos com um grupo de pessoas que começaram a jogar talvez com mais de
vinte, vinte e cinco anos, e já vinham com esse determinado vício.
Estamos erradicando. Nessas 4 ou 5 horas de um torneio as pessoas precisam
se acostumar. Dentro de um shopping então, é inconcebível, é lei. Tem
uma placa dizendo que é “proibido fumar conforme a Lei ...” e tal. É
uma regra básica que a gente não consegue entender que algum atleta
ainda possa pensar em não cumpri-la. Sei que é uma minoria, mas essa
minoria ainda atrapalha.
LP
– Como é ser casado com uma atleta de boliche?
CM
– Mais difícil para ela do que para mim. Eu tenho muito orgulho de ser
casado com uma tricampeã brasileira individual, depois da Jacque, sua irmã,
ela tem o maior número de títulos individuais do Brasil. Mas isso pesa
mais para ela do que para mim infelizmente. As pessoas nem sempre conhecem
a história e não possuem memória no boliche. Além de tricampeã
brasileira, muitas vezes seleção brasileira, e num esporte que não é
como ginástica olímpica que se tem uma nota subjetiva. Existe um
regulamento para ser cumprido e uma regra: os pinos estão lá para serem
derrubados. Algumas pessoas às vezes tentam atingir o presidente
mirando-se nesse caso. Só que eu tenho toda a tranqüilidade em dizer que
os pinos são fixos e nosso esporte é derrubar esses pinos. Não há uma
regra que se possa beneficiar A ou B na somatória desses pontos. Por isso
que digo que é mais difícil para ela ser esposa do presidente. Muitas
vezes querem atingir o presidente atacando sua esposa. Felizmente os
resultados nas pistas comprovam, principalmente em um passado recente que
não há essa necessidade. Depois da minha entrada na presidência, ela só
foi seleção brasileira uma vez, antes já tinha sido várias vezes,
jogando o Pan-americano, 2 Mundiais , etc. Acredito que eu mais a
prejudico sendo presidente do que possa trazer benefícios. Esse esporte
é muito de “mental game”, é preciso que esteja psicologicamente
bastante preparado, não que ela não esteja, mas, em alguns momentos as
críticas que vêem a mim ou à nossa diretoria, respingam e atrapalham o
seu desempenho enquanto atleta. No ano passado ela passou por uma
cirurgia, ficou longe das pistas e está voltando agora, mas, com muita
responsabilidade, com tranqüilidade. Seus títulos, seus resultados, sua
postura em pista, mostram um bem mais do que alguns possam desmerecer e não
há o que o presidente queira favorecer, as regras são para todos, o
Boliche é medido eletronicamente não por notas subjetivas.
LP
– Se conheceram no boliche?
CM
– Sim. A um bom tempo. Só não
vou dizer o ano para não deixá-la mais velha (risos). Eu já era
presidente da Federação Mineira. A primeira bola eu trouxe de uma viagem
internacional e dali para frente... Os filhos (Isabela 14 anos e César
Augusto com 11) também gostam. Sinceramente não tenho feito muita força
para que gostem. Obviamente que eles pretendem seguir a mãe que possui
mais títulos. Faço um agradecimento, pois não teria condições de ser
um dirigente se a família não me apoiasse. Hoje meus filhos estão mais
firmes no hipismo, pois em minha cidade não tem boliche. Mas, gostam,
participam sempre e incentivam a mãe a continuar.
LP
– Você reside aonde hoje?
CM
–
Em Sete Lagoas, 70 km
de Belo Horizonte. Uma opção por qualidade de vida. Com isso estamos um
pouco mais longe do boliche. Uma cidade com 210 mil habitantes caberia
bastante um boliche lá. Se algum empresário se interessar... a gente
observa boliches em cidades até menores.
LP
–
Hobby
CM
– Sempre fui muito fã do automobilismo. Durante muito tempo algumas
pequenas participações em quilômetros de arrancada, rali, esse seria o
principal hobby. E hoje apóio muito as crianças no hipismo.
LP
– Seu melhor momento no esporte.
CM
– Pessoalmente, ser
campeão brasileiro de clubes em 1993 e dessa forma conquistei uma vaga
pelo bom momento e como seleção brasileira, o que poucas pessoas
conhecem é que disputei um torneio das Américas, por exemplo, e consegui
uma média melhor que Marcio Vieira naquele momento. Isso não é muito
lembrado no currículo geral dessa pessoa que ficou muito mais conhecido
como dirigente, mas, o meu melhor momento foi ver atletas como o Mario
Alvarenga em 2001 conquistando uma medalha de ouro juvenil no Torneio
Mundial da Amizade em Orlando. Momentos
que tivemos medalhas internacionais nos Jogos Odesur aqui e fora do
Brasil, e sobretudo quando
conversando com técnicos internacionais, eles dizendo que o Brasil está
no caminho certo. Isso nos motiva a continuar.
LP
– Pior momento.
CM
– Seria, todo mundo tem crítica a qualquer decisão tomada. Mas
infelizmente dentro da nossa comunidade, em alguns momentos as pessoas não
sabem separar a figura do presidente da entidade como um todo. Eu entendo
que esse é o pior momento, quando eu vejo algumas críticas não tão
fundadas. As pessoas por falta de informação, muitas das vezes não
conhecem 100% o que é o regulamento, ou se foi aprovado pela própria
Federação que eles fazem parte, e me atribuem. Isso é uma tristeza
quando você quer fazer um trabalho positivo, procurando crescer o esporte
e alguns ao invés de construir fazem críticas destrutivas. Elas devem
haver e sempre, mas quando a pessoa sem algum conhecimento tece críticas
principalmente em locais públicos, como um site de internet, é um dos
momentos de maior tristeza.
LP
– Você acompanha sempre o mural do site boliche.com.br?
CM
– Eu acho que o site do
Bira é a maior audiência que temos no boliche. Inclusive já o premiei
como um destaque da década. A Confederação completou 10 anos dentro da
minha administração e eu procurei premiá-lo como um fator positivo para
o esporte, e realmente é. Só que eu digo que as pessoas não têm consciência
que algumas discussões deveríamos tirar do “mural” e passar, por
exemplo, para o “fórum”, aonde a gente tem condição de discutir sem
exposições indevidas do esporte. Estamos reformulando nosso site com
alguma dificuldade e lá vamos ter um “chat” tanto para federado,
quanto para dirigentes de federação, e dessa forma fazer com que as
discussões do boliche sejam mais construtivas. Ali era um local mais para
recados. As pessoas não entendem que esse recado está sendo visto pelo
mundo e por outras entidades.
LP
–
Que conselho daria para quem está começando agora?
CM
– Que procure se espelhar naqueles que realmente tem construído o
esporte com seriedade, que procure ser técnico, que saiba a diferença
entre uma bola reta, uma bola com muito giro. Porque em alguns momentos
deixam de ganhar um campeonato porque perderam muitos pinos isolados no
caminho e, sobretudo que procure o conhecimento, pois essa é a maior
condição para se praticar qualquer esporte.
LP
– Fale sobre a Normabol.
CM
– (Muito sério) Isso é mais um desconhecimento da comunidade. A
Normabol, ou seja, o “regimento normativo do ano”, ele tem por
objetivo ditar regras para o que vai ser feito durante aquele ano. Na
realidade, o estatuto da Confederação até 2003 designava como
prerrogativa do presidente estabelecer as normas que serão regidas no
esporte no decorrer daquele ano. Isso caiu em janeiro de 2004 com o novo Código
Civil Brasileiro. O que se discute muito se deve ser atualizado, é porque
as pessoas não tinham o conhecimento que criar uma nova Normabol, é um
regimento de que um presidente anterior utilizou. Eu assumi a Confederação
em 2001 com uma Normabol feita por Marco Aurélio. A Normabol dele era
para o ano de 2000. Durante o ano de 2001, com o conhecimento dos
presidentes das federações, fazendo inclusive assembléias, instituímos
várias notas oficiais que normatizava o boliche para o ano de 2001 e
depois para 2002. O pouco conhecimento ou a prática que foi feita, é que
na cabeça de todo mundo a Normabol tem que ser uma “montanha” de
leis. No meu conhecimento, muito mais importante do que fazermos 10.000
leis, como o Brasil que tem muito mais do que isso, é termos normas mais
enxutas que possam ser cumpridas. Se em uma assembléia, como a que foi
feita no momento de minha eleição, definimos qual seria o procedimento
para o ano de 2006, e vamos cumpri-lo, como temos cumprido “na risca”,
é muito mais importante que em um único documento esteja contido a ata
da assembléia assinada por cada um dos presentes, definir o critério de
convocação, critério de ranking e pronto. Essa para mim é a Normabol
2006. Não precisamos ficar com essas discussões. Nós temos uma regra
internacional que diz se deve usar bermuda ou calça comprida! Temos uma
norma internacional que diz que se passar da linha de falta, leva-se zero
naquele frame. A Normabol não tem que ficar repetindo. Divulga-se a norma
da FIQ, que é a nossa entidade internacional, e as pessoas têm o
conhecimento das regras geral do boliche. O normativo do ano de 2006 ou de
2007 é uma coisa que deve ser colocado antes de rolar a primeira bola e
que se cumpra aquilo! Era uma prática da gestão anterior, Marco Aurélio,
inclusive meu secretário geral, pessoa de grande conhecimento, trabalhar
com a Normabol. Eu particularmente acho que um regulamento mais simples,
que se institua em janeiro o que vai acontecer de janeiro a dezembro, e
desde que se cumpra, é o que precisamos! E não fazer inúmeras leis que
normalmente não são cumpridas e servem mais para discórdia.
LP
– Do que você precisa para ser feliz?
CM
– Saúde e paz.
LP
– Qual o defeito que detesta em você?
CM
– Às vezes falar muito.
LP
– O que mais despreza em uma pessoa?
CM
– Falsidade.
LP
– Do que você se arrepende?
CM
– De não ter dado algumas respostas mais diretas a alguns que mereciam.
LP
– Uma música inesquecível.
CM
– “Tocando em frente”, que é meu lema, gostaria de estar andando
devagar porque já tive muita pressa.
LP
– Um filme.
CM
– Não tenho tido tempo
de ir ao cinema, mas, pode ser “O dia seguinte”.
LP
–
Um livro.
CM
– “Semente da vitória”
de Nuno Cobra. Estou tentando ler para respirar um pouquinho mais antes de
tomar algumas decisões.
LP
– Herói preferido na ficção.
CM
– Batman.
LP
– Quem levaria para uma ilha deserta?
CM
– Sandra, minha
esposa.
LP
– Quem deixaria lá para sempre?
CM
– Alguém que não goste de paz.
LP
– Qual seu maior medo?
CM
– De não estar amanhã
com a minha família.
LP
– Refeição preferida.
CM
– Filé a Parmeggianna (risos).
LP
– Uma mulher bonita.
CM
– Você (risos).
LP
– Um homem bonito.
CM
– Estava aqui perto, o Edson
Celulari.
LP
– Uma recordação da infância.
CM
– Quando meu pai
me deu um castigo de 15 dias por ter chegado 15 min. atrasado em casa.
(Sorrindo).
LP
– Perfume.
CM
– Brut.
LP
– Cantor preferido.
CM
– Gonzaguinha.
LP
– Cantora?
CM
– Elis Regina.
LP
– Ator preferido.
CM
– Lima Duarte.
LP
– Atriz?
CM
– Fernanda Montenegro.
Entrevista concedida em 05/08/06