Olá!!!!!

O entrevistado desse mês merece todo nosso respeito!

GEORGE WHITE,Atleta competente, incentivador do esporte, talvez um dos poucos a viverem literalmente do boliche, e não como empresário, como praticante.

Baiano de coração, estrangeiro de nascença, GEORGE WHITE, casado com a também jogadora Claudia White (responsável pela sua permanência na Bahia), pai de 5 filhos (4 instalados pelo mundo), 8 netos, nascido em Porto Rico, com seus 55 anos tem muita história para contar e muita coisa para ensinar. Experiência não lhe falta. Com descontração e  carisma, esse batalhador nos deu o prazer de lhe conhecer um pouco mais!

LP – Como o boliche apareceu em sua vida?

GW – Eu trabalhava em um campo de golfe na Califórnia – Estados Unidos, tinha 8 anos de idade, e ao lado existia um boliche. Comecei a jogar, gostei, não parei mais!

LP – Você morou nos Estados Unidos durante quanto tempo?

GW – Por vinte e cinco anos.

LP – Quando saiu de lá foi para onde?

GW – Para Porto Rico. Eu nasci em Porto Rico, fui criado nos Estados Unidos, voltei a Porto Rico e depois voltei aos Estados Unidos.

LP – Sempre jogando boliche?

GW – Sempre jogando boliche.

LP – Você teve algum professor?

GW – Minha primeira aula de boliche foi quando eu já tinha 50 anos, em Miami, Flórida. Não tive nenhum instrutor, jogo intuitivamente.

LP – Quando foi seu primeiro campeonato para valer?

GW – Com nove anos. Nos Estados Unidos é muito diferente daqui, existe muitos torneios, para crianças há toda semana. Têm torneios para todas as idades, faixas etárias: dos 8 aos 12, 13 aos 15, e vai trocando, são muitos campeonatos, com premiações, brindes etc.

LP – Qual sua profissão?

GW – Eu vivo do boliche.

LP – O que é viver de boliche?

GW – Vou explicar. Tudo em minha vida está relacionado ao boliche. Eu vendia ouro, jóias com designer de boliche, pinos, pinos com bola. Eram correntes com pingentes, brincos, pulseiras, tudo com relação ao boliche. Vendi também sapatos, bolas, mas, sempre ganhei a vida vendendo ouro.

LP – Como você conheceu sua esposa?

GW – Conheci Claudia na casa de meu amigo Frank Willians (americano jogador de boliche) aqui em Salvador. Eu vim para ser padrinho de casamento dele e acabei conhecendo ela.

LP – Então você acabou vindo para o Brasil por causa de seu amigo?

GW – Sim.


LP – E porque ficou?

GW – Sinceramente, fiquei por Claudia! Porque meus filhos do primeiro casamento, um estava na Coréia, outro na Flórida, outro na Alemanha, em diversas partes do mundo, um é militar, os outros estão casados, mas, todos muitos distantes. Claudia tem sua mãe, seu pai, seu irmão, todos aqui em Salvador. Eu não queria obrigar ela a deixá-los. Teríamos muito tempo para ir a outro lugar! Eu não queria obrigar. Agora ela quer, então nós vamos!!

LP – Vocês vão morar  nos Estados Unidos?

GW – Sim, no final do ano vamos para lá. Eu trouxe para você ver (panfletos de torneios), todos oferecem prêmios: U$ 20.000 para o primeiro lugar, U$ 30.000, como você pode ver, existem muitos torneios com premiações boas e são constantes, toda semana!  Todo fim de semana! Veja!! U$ 5.000 de prêmio (me mostra o panfleto!). É difícil de explicar, se paga U$ 8,00 para jogar, e os prêmios são ótimos!

LP – Então nos Estados Unidos é realmente possível se viver de jogar boliche?

GW – Sim. Muito fácil. Para treinar é muito barato. Se você consegue ter uma boa média, é possível! Existe muita facilidade para o treino, é barato! E se você treina, você melhora seu jogo, automaticamente se tem chance de melhorar, de vencer.

LP – Nos Estados Unidos se incentiva o esporte?

GW – Sim. Existem nos colégios aulas de boliche, como se fosse o futebol aqui, uma aula de educação física, se recebe nota, é tida como uma disciplina escolar. Desde criança se tem contato com o esporte.

LP – Você pode ser um instrutor de boliche em colégio?

GW – Sim. Eu fui instrutor no México, Porto Rico, e formei duas escolas. Uma inclusive com crianças excepcionais. Aqui formei o Clube da Amizade.

LP – O que acha de nossos jogadores baianos?

GW – São ótimos, porque estão lutando contra as más condições de equipamentos, pinos, etc. Temos duas máquinas de óleo, que se juntar não forma uma boa! É muito difícil se preparar duas pistas iguais. Os pinos são velhos e com muita diferença de idade, alguns foram comprados em 2000, outros 2002 e 2005, sendo que alguns comprados já usados. Uns pinos são de plásticos e outros de madeira. O resultado disso é visto nas pistas quando o jogador consegue um arremesso perfeito e como prêmio recebe um split. Os pesos são diferentes, pinos que deveriam correr, não correm, param! Temos bons jogadores, mas, as pistas não colaboram!

LP – Você tem algum hobby?

GW – Sim, o golfe.

LP – Fuma ou bebe quando joga?

GW – Não fumo e nem bebo no meu cotidiano.

LP – O que acha de jogadores que bebem durante uma partida de boliche?

GW – Eu acho que quando jogo pela Federação, não se deve nem fumar e nem beber. Campeonatos homologados pela Confederação Brasileira então, nem pensar. Mas, não é o que anda acontecendo, não foi o que vi aqui no Brasileiro! Vi um desrespeito pela Confederação. Há de se ter um respeito na maneira como se vestir e de como se comportar na pista. Ter postura!


LP – Que bolas utiliza para jogar?

GW – Eu uso uma Ebonite de 15 libras, pois já provaram que não causa problemas no cotovelo como a de 16. Tenho 3 bolas, mas, para essa casa uso apenas ela.

LP – Qual foi seu melhor momento no esporte?

GW – Para mim foi o Torneio que organizei das crianças excepcionais no México.

LP – E o pior momento?

GW – Quando não pude jogar.

LP – O que aconteceu?

GW – Um acidente. Eu estava no boliche em Porto Rico, era 1992, quando saí do boliche, me assaltaram, levaram minhas jóias, meu carro e me acertaram 3 tiros. Fui tido como morto.

LP – Por quanto tempo não pôde jogar?

GW – Entre hospital, cama, cadeira de rodas, muletas, bastão e aprender a caminhar novamente, foram quatro anos.

LP – Lhe disseram que nunca mais iria voltar a jogar?

GW – Sim. Porém, o dono do boliche do México, me mandou buscar, pagou médicos, hospitais, para poder dizer que um dia eu ainda iria jogar novamente. Em Porto Rico os médicos diziam que jamais conseguiria jogar de novo. Quando retornei a jogar, fiz minha melhor série, em 3 partidas, 817. Dá muito mais prazer do que um 300 em uma única partida.

LP – Títulos importantes?


GW – Todo título de 1.º lugar, é importante. Cada torneio que não se ganha, é importante. Um bom esportista deve saber ganhar e perder. Eu já joguei em Porto Rico, México, Panamá, Costa Rica, Venezuela, Guatemala, Flórida, Califórnia, Las Vegas, Brasil, ganhei muitas vezes, mas, perdi também, sempre se deve perder de uma boa forma.

LP – Em sua opinião, qual o melhor jogador baiano hoje?

GW – Difícil. Acho que existem umas quatro pessoas que estão com bom nível de jogo para ser campeões, mas as pistas não ajudam. Está entre Carlos Salgado, Waldemar Bueno, Ton Ton Flores e Luiz Teles. Não possuem uma jogada perfeita, linda, mas, estão sempre entre os melhores, estão sempre dando o exemplo. Carlos possui um jogo bonito, mas, tem uma área de jogo muito limitada, o que não acontece com Waldemar ou Ton Ton, eles são mais constantes. Se existir condições de pistas favoráveis, aí sim, Carlos é o melhor.

LP – E o melhor do Brasil?

GW – Difícil, existem muitos. Pelo que eu conheço, pelo menos umas 10 pessoas podem estar sempre trocando de posição de campeão. Não darei nomes.

LP – Qual o melhor jogador que você já viu?

GW – Tim Max. Americano. Joguei contra ele no Rio de Janeiro, e me impressionou porque não sentia pressão, podia errar algumas vezes, mas, isso não o abalava, logo em seguida fazia muitos strikes. Em um dia ruim fazia 240 de média. Quando estive a 3 meses atrás na Flórida, comecei a fazer uma média de 230 e achar que estava ótimo, quando olhei para o lado, outras pessoas faziam 250, 260 de média. As condições de pistas lá são muito melhor e também as casa incentivam o jogo, dão condições para treino, mais barato. Depois de 3 semanas, eu estava fazendo 260 também.

LP – Você não acha que fica muito fácil quando as pistas são boas demais?

GW – Não. Cada boliche faz suas pistas diferentes. Uma é preparada para você sacar pela seta 2, outra você precisa jogar pela 3. Isso faz com que se possa treinar melhor sua posição no saque, sua mão, pés, sua melhora no jogo é constante, as pistas são sempre iguais, isso é bom. Aqui é preciso fazer muita força para a bola chegar até os pinos, outras é preciso cruzar o braço, não presta!

LP – O que acha que pode ser feito para melhorar nosso boliche?

GW – Sei que máquinas novas, são muito caro, mas, creio que, por exemplo, o dinheiro que está patrocinando o programa de televisão, que em minha opinião não está trazendo benefícios algum ao esporte, poderia ser utilizado para ajudar na compra de pinos. Primeiro se deve colocar os pinos, as pistas em condições de jogo e só depois atrair novos jogadores.

LP – O campeonato Brasileiro de Seleções será seu último torneio no Brasil?

GW – Sim. Este ano vou participar como Seleção Baiana. Por eu ser estrangeiro uma vez não pude participar do torneio das Américas representando o Brasil. Tinha todas as condições de ganhar, me disseram que eu iria, cheguei a pagar por isso, mas, na hora certa me vetaram. Este ano quero ir por ser o último representando a Bahia e sei que temos uma boa equipe, temos condições de competir.

LP – Giro ou pontaria?

GW – Qualquer bola sendo direita, com precisão, reta ou girando. O jogador que mantém uma média boa, merece ir para seleção, não importa como joga!

LP – Qual o melhor torneio que temos na Bahia?

GW – Sinceramente, o Master. Porque não possui o handicap. Handicap não ajuda ninguém a melhorar. Eu prefiro o método de 1.ª, 2.ª e 3.ª divisões, porque, quem está atrás, com certeza quer subir e isso faz com que se esforce. Eu prefiro jogar um contra um e realmente ver quem é o melhor. Vamos ver quem é o melhor desse ano!

LP – Qual sua meta como jogador?

GW – Trazer gente nova para o esporte. Trazer crianças. Boliche é um esporte que não tem contato físico, pessoa de 8 ou 60 anos, pode praticar, branco, negro, alto, magro, gordo, não há restrição.

LP – Como ficará o Clube da Amizade sem você?

GW – Creio que ficará com o comando de Edson. Ele não possui a experiência da coisa profissional, mas aqui não há coisa profissional, mas esse ano está existindo mais disciplina, e as pessoas gostam dele. Pretendo trazer a cada seis meses um instrutor para o esporte melhorar. O clube não vai acabar. Existe um grupo que está comigo desde o início e hoje se pode ver o quanto caminharam, melhoraram. Se tem uma escola as pessoas aprendem. Tem pessoas na federação que já jogam a 5 anos e não melhoram em nada, ao contrário...

LP – O Clube da Amizade terminou a fase classificatória do Campeonato de Tercetos em primeiro lugar da chave A, como você se sente?

GW – É uma vitória muito grande, eu com o meu terceto estamos em segundo, atrás deles. E não é por causa do handicap, precisa jogar alguma coisa para ganhar. Esses três jogadores em minha opinião, foram os que mais progrediram esse ano. Provaram que estão melhores do que o ano passado.

LP – Qual o conselho que daria para quem está começando.

GW – Praticar pelo menos três vezes por semana. Treino e competência. Praticar muito pino isolado, pino 7 e 10 principalmente.

Entrevista concedida em 31-08-05

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